terça-feira, 30 de agosto de 2005

Anos 80, uma mão cheia de ilusões...

Entrar na adolescência nos anos 80 teve o seu quê de ambiguidade. Por um lado, a vida despreocupada de quem tem como missiva do dia o brincar na rua, por outro, o medo que acalentava, porque alguém na altura me falou na bomba atómica e sua ameaça (sustento da guerra fria). Sonhava com isso e achava que o amanhã não iria chegar. Enfim, lá ultrapassei esse tormento, talvez devido ao despertar de interesse pela música, pelos livros e com isso ocupava o espirito...
Sem saudosismo lamecha, recordo a escola, os amigos de então, tardes passadas a pensar no nada, as primeiras saídas nocturnas aos 16 anos de idade (recorrendo, para o efeito, a subterfúgios e mentiras) com horário de regresso marcado sem flexibilidade, os colegas que fumavam os primeiros cigarros, bebiam as primeiras cervejas e assistiam aos primeiros concertos, para mim tudo era uma miragem...
A segurança pairava num marcado ambiente urbano, as "playstation" eram ainda o projecto de alguém, os computadores algo aliciante, os DVD's uma ideia, tinha a liberdade e o prazer de desfrutar dos espaços abertos, de rebolar na terra, de subir às árvores, de pisar a erva e mergulhar nos rios (ainda) limpos. A casa não era o destino eleito para o após aulas, nem os meus pais corriam atrás de mim, como se de uma jóia de vidro se tratasse e que estivesse na iminência de partir ou desaparecer...
Vivi na inocência de quem dá pequenos passos e vai tropeçando na escalada do percurso do nosso crescimento. Gostei da rebeldia que marcou um período de audácia.
Olhando à rectaguarda, penso que deveria ter aproveitado mais, sugar o tutano à vida. Naquela época, achei que teria tempo para o fazer. Mas sabem, só se sente o nirvana às coisas nos momentos exactos, e só ali faz todo o sentido. Depois disso, não é perfeito, o encanto desvanece e a ilusão cai no vazio.

quarta-feira, 24 de agosto de 2005

"Deus morreu", Nietzsche

Sempre me fez pensar, ouvir dizer: "sou católico, mas não praticante". Como se pode ser cristão não praticante? Penso tratar-se de uma resolução de contra-senso. Isto porque, se rezamos ou evocamos Deus, se somos baptizados ou se casamos pela igreja...estamos a agir em conformidade com as leis do catolicismo.
Apesar de não marcarmos presença assídua nas capelas, ou a Igreja como instituição (na nossa actualidade) não afirmar grande sentido, a verdade é que se acredita em algo que transcende tudo isso...Essa consistência (não obstante a ideia parecer, por si só, abstrata) que o nosso interior sabe existir, contrariando Nietzsche na sua "tese" sobre Deus...Assim sendo, encontramos na nossa razão a substância que concretiza e materializa o que sabemos ser um espirito absoluto.
Ainda que, por vezes, não compreendamos os seus desígnios e voltemos a questionar o sentido desta temática, a complexidade do universo e onde encaixa a nossa personagem neste enredo a que chamamos vida.
A fé, contudo, recoloca-nos nos trilhos de uma lógica pragmática - a harmonia e o equilibrio de todas as coisas está segura pela mão de um Deus maior... Mas será assim tão simples, tão linear?...

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

"Vertigo Tour" em Alvalade, absolutamente arrebatador!

Dia 14 de Agosto de 2005, inesquecível!
"Bono é um Deus e os U2 a minha religião", este era o slogan patente no cartaz de um entre os milhares de "discípulos", que marcavam presença em Alvalade. E claro, também eu lá estava como fiel seguidora, assistindo perplexa e sempre surpresa ao maior espectáculo do mundo - os "Deuses" que brilhavam no Olimpo.

Admito que a perfeição não foi a tónica dominante, o som, a meu ver, apresentava falhas e o cansaço era por demais sentido, não só visível na "performance" dos 4 fantásticos(que acusavam o final de uma exaustiva digressão europeia) mas reconhecido ainda nos corpos dos fãs, maçados pelos quase 40 graus que se fizeram sentir, ao longo daquele escaldante dia...

Não assistimos, como há oito anos atrás, a um deslumbre de acontecimentos cénico/visuais (aquando da Pop Mart), mas a referência e despertar para questões de carácter social/cívico e político eram constantes.


O delírio geral de uma audiência encantada fazia transparecer o rubro de emoções não contidas por vozes sempre "gritantes", das forças quase findas, que ao começo de cada música tinham que renascer pela obrigatoriedade que a arte impõe.

Não tenho palavras para mais dizer, a não ser que a memória já acusa em mim uma saudade, já só espera com ansiedade assistir de novo ao desfilar de canções ditas pela alma e sentidas pelo coração... "All because of you"!