segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"No Canil Municipal da Guarda – 1ª parte"

"Em Portugal existe um conjunto significativo de pessoas que maltrata animais. A confirmar esta minha convicção, serve o exemplo da passada quinta-feira em que, viajando no inter-cidades da Guarda para Lisboa, chega até mim, vindo de um dos lugares ao lado, o som de um porco a grunhir. Provinha de um telemóvel. Sobre ele debruçavam-se dois ferroviários que, descontraidamente, davam grandes gargalhadas a ouvi-lo. Porque aquele som de um animal em sofrimento me estava a incomodar, expliquei-lhes que o que lhes estava a dar prazer a eles era o som de um animal em sofrimento e que eu não tinha de ouvir aquilo. Os guinchos do animal desesperado pararam. Mas este é apenas um exemplo do que é a insensibilidade de alguns.

Sendo nós uma espécie mais evoluída em relação aos restantes mamíferos (afinal não pertencemos à espécie dos Neandertal, nem já à do homo sapiens, mas sim à do homo sapiens sapiens), seria de esperar, talvez, uma atitude de maior compaixão, solidariedade, gratidão e amizade para com seres que connosco partilham o planeta, e que, fazendo parte integrante do nosso habitat, nos prestam serviços e nos oferecem a sua amizade incondicional.

Mas não. Há ainda demasiada gente que se compraz e faz gala em tratar mal os animais. Parece-me estar a ouvi-los: “Atiro aqueles gatos à parede e eles fazem poc, poc, poc!”; ou ainda: “Como não me queria obedecer, atirei-lhe a mangueira à cabeça e fiz-lhe logo um buraco! O sangue do filho da ... até esguichou para a parede!”

Para já não falar de todos aqueles que, apesar de proibido por lei, os abandonam: os abandonam quando eles crescem e já não têm a graça de ser cachorro; os abandonam quando, ao comportarem-se como cachorros que são, roem tudo o que encontram; os abandonam quando vão de férias e não pensaram com antecedência onde os deixar; os abandonam quando não prestam para a caça; os abandonam quando estão velhos e doentes.

Sendo esta a mentalidade de uma parte da população, seria de esperar que, ao pôr em funcionamento um canil municipal, o presidente da autarquia tivesse extremo cuidado na escolha dos tratadores a contratar – fosse a partir de grupos indiferenciados de candidatos ou de grupos mais diferenciados (não esqueçamos que os maus exemplos proliferam, por vezes mesmo por parte das entidades de quem se espera maior responsabilidade e o melhor exemplo).

Teria sempre de haver parâmetros muito concretos que levassem a encontrar pessoas cuidadosas e carinhosas para com os animais. É que os cursos de formação nunca transformam sentimentos. O curso de formação ensina técnicas, não confere um lado humano e de empatia a quem o não possui à partida.

Foi essa falta de humanidade e empatia que vi quando visitei o Canil Municipal da Guarda na passada terça e quarta-feira, dias 17 e 18 de Novembro, a diversas horas do dia.

Os cães do canil encontravam-se continuamente molhados. Tremiam de frio. De manhã o chão dos compartimentos estava a ser lavado e, juntamente com o chão, os animais eram também molhados e alguns, os mais baixotes, estavam a pingar água. Vi cães, mas estou a imaginar que o mesmo acontece aos gatos... À tarde, quando lá voltei, os cães continuavam a pingar água. Os maiores tinham o pêlo todo húmido. Apesar de haver duas ninhadas que tinham ninho, havia uma cadela, aparentemente recém-chegada, só com um cachorro, que não tinha ninho, só o estrado molhado, e tremia de frio. Havia dois ninhos num vão de escadas cá fora mas que não estavam a ser usados e eu própria coloquei um deles à mãe cadela com um tapete que trouxe de casa com esse fim.

Os restantes cães – e havia um total de 19 adultos e nove cachorros – tinham como cama uns estrados de plástico molhados onde se poderiam deitar. A alternativa era estarem de pé, sobre a água. Ao chamar a atenção do tratador para os cães todos molhados, este disse que era natural, que não podia lavar o chão sem molhar os animais.

Um dos cães, que acabei por trazer para casa, deixava pegadas de sangue ao andar. O tratador de serviço comentou que tinha havido luta entre os cães. Mas não - era apenas a pele fragilizada das suas patas. Como estão todo o dia em contacto com a água num piso quase liso, as almofadinhas das patas não chegam a secar e, não sendo endurecidas por caminhadas em terrenos com relevo, ficam muito frágeis e abrem gretas com facilidade.

É interessante notar que, tendo um dos dois membros da Associação A Casota, presentes na altura, pedido ao veterinário municipal um pouco de Betadine para lhe pôr nas patas, este o tenha negado, dizendo que não havia Betadine nem caixa de primeiros socorros porque no Canil Municipal não se tratavam animais.

O tratador confirmou que os animais não eram soltos. Desde fins de Julho passado que os cães do Canil Municipal da Guarda deixaram de poder estar um tempo fora das celas todos os dias, o que fora hábito durante os três anos em que a engenheira zootécnica lá estivera e que faz parte das boas práticas para o bem-estar animal que a lei prevê (Decretos-Lei nº 276 de 2001 e nº 314 e nº 315 de 2003). Bastava que os soltassem enquanto lavavam as celas para que não ficassem molhados, a tremer de frio, todo o dia e toda a noite, como acontece no século XXI, na cidade mais fria do país.

Na reunião havida na Câmara Municipal da Guarda em 14 de Setembro de 2007 sobre o funcionamento do Canil, tinha sido já decidido o afastamento dos actuais funcionários afectos ao Canil e a sua recondução noutras funções. Dois anos depois porque continuam ainda lá aqueles homens inicialmente contratados para a recolha de lixo? O que é assim tão forte que mantém no Canil Municipal da Guarda “tratadores” que lidam desta forma com os animais?

Por: Luísa Queiroz de Campos"

Jornal "O Interior"

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"[Miguel Moutinho, dirigente da ANIMAL, em entrevista à ANDA – Agência de Notícias dos Direitos dos Animais, do Brasil]"

"In ANDA, 20 de Novembro de 2009)

Com formação em Filosofia, Miguel Moutinho é ativista dos direitos animais e vegano desde 1998. Entre outros projetos em defesa dos animais que fundou e coordenou, está o Centro de Ética e Direito dos Animais. Desde 2002, ele é dirigente da ANIMAL, uma organização fundada em 1994, que completa este ano 15 anos de existência a serviço dos animais de Portugal, e que é, atualmente, uma das mais ativas organizações de direitos animais da Europa. Nesta entrevista concedida com exclusividade à ANDA, Miguel Moutinho fala sobre o trabalho da ONG que dirige, analisa a relação da sociedade com os animais e apresenta sua visão sobre as correntes no movimento de defesa animal. Confira!

ANDA – Como analisa o estado do respeito pelos animais em Portugal, da defesa e da proteção destes?

Miguel – Ao longo dos últimos anos, a sociedade portuguesa evoluiu bastante no que diz respeito ao seu grau de consciência acerca das características dos animais, das suas necessidades, e acerca dos muitos problemas que os afetam. O chamado public awareness, ou seja, a consciência pública e do cidadão comum acerca dos direitos dos animais e das violações destes – no caso, em Portugal – evoluíram imenso, fruto de um intenso trabalho de campanha, de alerta e de informação e sensibilização que tem sido feito, nomeadamente pela ANIMAL. Claro que, por outro lado, as muitas injustiças e atrocidades que são cometidas contra os animais passaram a ser mais conhecidas, mais identificadas e mais discutidas, pelo que se pode ter a percepção de que haverá hoje mais problemas que afetam os animais em Portugal do que havia no passado. Contudo, sendo embora verdade que os problemas não diminuíram, eu diria que, ainda assim, não há mais problemas – há apenas a manutenção dos muitos que sempre houve e há uma maior consciência desses mesmos problemas e da sua intensidade. Não deixa, porém, de ser verdade que o Estado Português, sobretudo por omissão de uma ação pedagógica, legislativa e inspectiva, preventiva e punitiva, no sentido de proteger os animais do país, tem permitido que haja uma quase total impunidade em relação a quem comete qualquer forma de abuso contra animais, seja em que contexto for, embora isso se note mais quando as vítimas são os chamados “animais de companhia”, principalmente os cães e os gatos, que são aqueles que estão mais próximos das pessoas e por quem estas nutrem uma especial empatia e simpatia. Essa mesma impunidade e os problemas que estão na sua base e que dela são efeito registam-se, no entanto, também fora desta área, que é mais popular, mas, justamente por isso, são menos notados, embora também haja um crescendo de consciência e preocupação dos cidadãos em relação a esses animais e a estas questões. Este é o quadro geral. Em termos mais concretos, notam-se sinais específicos muito positivos: muitas pessoas começam a compreender, muitas vezes intuitivamente, até, o erro da expressão “donos”; nos dois últimos anos, sobretudo, passou a ser reconhecida como uma questão muito importante o lamentável fato de os animais serem juridicamente categorizados como “coisas”; também nos últimos anos a repulsa social pelos atos de crueldade contra animais mais públicos, mais evidentes e mais imediatamente perceptíveis como errados, como é o caso das touradas, dos circos com animais e dos rodeios, cresceu e ganhou expressão política; além disso, nos últimos anos tem havido cada vez menos caçadores ativos, embora haja ainda muita caça, infelizmente. A experimentação animal passou também a ser uma questão que merece atenção, além de haver um fenômeno crescente de adesão ao vegetarianismo e ao veganismo, com restaurantes vegetarianos a abrirem portas (e a manterem-se em atividade e bem-sucedidos) por todo o país, sobretudo nos meios mais urbanos mas já com alguma expressão também no interior do país, ao mesmo tempo que, desde as mercearias pequenas aos hipermercados, a oferta de produtos para vegetarianos e veganos tem crescido tremendamente. Há cada vez mais associações e grupos informais de proteção dos animais a atuar por todo o país, embora infelizmente ainda não de forma muito sofisticada e modernizada, mas é uma questão de tempo até que este meio se organize melhor, modernize e melhore as suas práticas e venha a fazer um trabalho melhor pelos animais. Considerando todos estes elementos, diria, pois, que a realidade portuguesa, apesar das suas muitas barreiras culturais de resistência aos direitos dos animais e apesar dos seus problemas muito próprios, também decorrentes do fato de Portugal ser um país periférico, está em progresso visível no que se refere à maneira como os animais são vistos e tratados, faltando principalmente que o Estado acompanhe, por meio de medidas políticas diversas e pela concretização prática destas, os avanços importantes que a sociedade portuguesa tem dado neste domínio.

ANDA – Que trabalho tem feito, nomeadamente por intermédio da ANIMAL, na defesa dos direitos dos animais em Portugal?

Miguel – Fundamentalmente, a ANIMAL tem feito um esforço hercúleo, ao longo dos seus já quinze anos de existência, e sobretudo nos últimos anos, para ser um autêntico motor de potenciação e realização de todos estes progressos. A ANIMAL tem sido a única organização do seu gênero a atuar em Portugal. A esmagadora maioria das organizações de proteção dos animais do país atua em nível local, exclusivamente ou quase exclusivamente na prestação de assistência e proteção a animais individuais, particularmente a cães e a gatos, lidando com os muitos dramas que os afetam, nomeadamente com o abandono, que acontece impunemente em Portugal ainda hoje. A ANIMAL tem procurado fazer o outro trabalho, igualmente importante, de despertar consciências, de informar as pessoas e de, com base nisso, tentar envolvê-las e à sociedade portuguesa neste processo de mudança sobre o modo como os animais são e devem ser vistos e tratados. E claro que este trabalho tem envolvido um muito amplo trabalho jurídico, político e legislativo, assim como mediático. Como disse, as resistências são muitas, os problemas culturais e a hesitação em mudar hábitos e comportamentos, tornando-os mais éticos, são obstáculos que se têm apresentado – e que todas as organizações de direitos humanos, de direitos dos animais e ambientalistas conhecem, de forma mais ou menos intensa, em qualquer parte do mundo, e a escassez de recursos e de apoios também não tem ajudado. Tal deve-se também ao fato de a ANIMAL ser muito leal aos animais, pelo que, embora seja uma organização que se pauta pela racionalidade, pela razoabilidade, pela tomada de posição éticas em defesa dos animais com base na melhor informação disponível e em fatos objetivos – ou seja, tendo uma abordagem racional e não emocional à defesa dos direitos dos animais –, tem necessariamente que defender os direitos dos animais por completo, e não apenas “mais ou menos”, o que faz com que se torne uma organização menos atrativa, sob alguns pontos de vista, para receber apoios. É também uma organização que faz questão de ser totalmente independente, razão pela qual nunca recebeu nem nunca aceitaria receber qualquer apoio de qualquer organismo do Estado. Ora, com uma tão firme observação e defesa destes princípios, e tendo em consideração que a ANIMAL se distanciou inclusivamente de muitas organizações, como a WSPA, PETA, HSUS, RSPCA e CIWF, entre outras, pelo fato de estas defenderem e tomarem posições que a ANIMAL considera que não respeitam nem promovem os direitos dos animais, a existência de recursos e de parcerias para a realização deste trabalho torna-se um desafio ainda maior. Mas o que é verdade é que, embora com muito esforço e sacrifício, a ANIMAL tem estado dedicada, leal e determinadamente ao serviço dos animais de Portugal e apoiando, na medida do possível, quem se preocupa com eles.

ANDA – Acha que tem sido bem-sucedido?

Miguel – Apesar do muito que ainda há por fazer e apesar do muito que, com mais recursos humanos e financeiros, poderia ter sido feito, sim, considero que tem sido um trabalho bem sucedido. A ANIMAL tem tentado, ao longo dos anos, estar ao nível do melhor que se faz no mundo em termos de defesa dos direitos dos animais. Com uma estrutura muito pequena e com uma tremenda limitação de recursos diversos, a ANIMAL tem ainda assim conseguido fazer em Portugal um trabalho que, proporcionalmente, se pode equiparar ao trabalho de algumas das maiores, mais capacitadas, incluindo em termos de recursos, e mais dinâmicas e reconhecidas organizações de proteção dos animais da Europa e dos EUA. Claro que, para qualquer defensor dos direitos dos animais, tudo o que fazemos para que a justiça que é devida aos animais não-humanos seja concretizada é sempre pouco e não chega, sobretudo quando vemos sucessivas evidências de que o que está por fazer para instituir de fato os direitos dos animais e a proteção destes é uma tarefa monumental e assustadora, que se subdivide em milhares de trabalhos diversos e necessidades múltiplas que precisam de ser supridas. Não nos sentimos em paz nem satisfeitos, enquanto tantas injustiças e atrocidades são cometidas, e pensamos sempre que podemos e devemos fazer mais e melhor. Mas somos humanos, temos limitações diversas, num país difícil para os animais, e, tentando analisar o nosso trabalho e o impacto que tem tido para os animais e na sociedade portuguesa, no modo como esta se relaciona com os animais, entendo que é legítimo considerar que a ANIMAL tem sido bem sucedida no seu trabalho pelos animais em Portugal.

ANDA – E, de uma perspectiva mais global, como vê, nomeadamente num ângulo de comparação, a proteção dos animais na Europa, no Brasil e no Mundo?

Miguel – O Brasil, do mesmo modo que tem vindo a crescer social, econômica e politicamente, tem avançado imenso no que diz respeito à proteção dos animais. Em muitos sentidos, e embora dependendo da cidade ou do estado de que estejamos a falar, o Brasil é mais avançado nesta área do que muitos países da União Europeia, incluindo Portugal. Quanto à Europa, é desigual, naturalmente. A União Europeia, por exemplo, é composta por 27 estados-membros com histórias e experiências sociais, culturais, políticas e económicas muito diferentes entre si. Por isso, também se notam essas diferenças na proteção dos animais. Para todos os efeitos, a União Europeia, enquanto legislador, tem definido mínimos, na área da proteção dos animais, que têm forçado mudanças importantes, sobretudo pelas implicações que têm nas mudanças de percepção e de hábitos dos seus povos em relação aos animais, em muitos dos seus estados-membros, mas está ainda hoje muito aquém do necessário e do esperado. A União Europeia tem que representar e materializar a modernização – incluindo do ponto de vista moral e político, nas matérias de importância moral, como é o caso dos direitos dos animais – e não deve ceder às resistências que favorecem arcaísmos sanguinários como as touradas, por exemplo. Presentemente, os 27 estados-membros da União Europeia toleram, indefensavelmente, a brutalidade cometida contra os animais nas touradas em apenas 3 estados-membros: Portugal, Espanha e França. Acredito que isso seja transitório e que será uma questão de tempo até que a UE tome posição contra isto, mas é mais natural e expectável que, entretanto, os sobressaltos cívicos que se têm registado em Portugal, em Espanha e em França contra as touradas levem a que esses estados as proíbam – há até já vários sinais que indicam que isso poderá estar perto de acontecer. A UE deveria também ter uma política central de proteção dos chamados “animais de companhia”, mas, até agora, tem-se auto-excluído dessa área. Neste contexto, tem crescido a solidariedade e o trabalho em rede entre organizações dos diversos estados-membros, coligadas formal ou informalmente, para lidar com problemas específicos, como a experimentação animal, a criação, exploração e morte de animais com fins alimentares, ou pelo seu pêlo, a manutenção e o uso de animais em estabelecimentos de entretenimento, etc., mas, a meu ver, o movimento europeu está ainda muito descoordenado e dividido, porque está a tentar adaptar-se à nova realidade quase-federativa da União Europeia, tentando lidar, ao mesmo tempo, com as violações dos direitos dos animais que ocorrem no seu espaço nacional, tendo que o ver também como espaço europeu, trabalho esse que essas organizações se vêem obrigadas a ter que fazer na esfera nacional e na esfera comunitária. É uma adaptação que espero e antecipo que se torne mais rápida e mais eficaz em breve, e que venha a permitir melhorar os seus resultados para os animais. Quanto aos EUA, têm, na minha opinião, as melhores estruturas de proteção dos animais no mundo. Os melhores santuários, para animais de espécies domésticas e selvagens, estão nos EUA, por exemplo. Mas, por ser um país muito heterogéneo, tem, dentro de si, gravíssimos problemas de difícil solução e, ao mesmo tempo, os melhores exemplos dos diferentes tipos de trabalho que há a fazer na defesa dos direitos dos animais. De resto, globalmente, apesar do holocausto animal ser ainda desesperantemente tremendo e avassalador, a verdade é que o mundo não pára de caminhar no sentido de respeitar e proteger cada vez mais os animais. Sintoma disso é, indubitavelmente, o fato de cada vez mais pessoas reconhecerem que não é legítimo alimentarem-se de animais ou aproveitarem-se, direta ou indiretamente, da sua exploração e violentação – o vegetarianismo e o veganismo são cada vez mais comuns e os apelos, das mais diversas fontes – até já da FAO, das Nações Unidas –, para que as pessoas adoptem dietas e hábitos de consumo livres de exploração de animais são cada vez maiores, mais repetidos e mais diversificados.

ANDA – Na discussão entre as diversas correntes da defesa dos animais, desde o bem-estarismo estritamente reformista ao abolicionismo puro, qual é a posição em que se encontra e que defende?

Miguel – Eu considero que é moralmente errado defender apenas a proteção do bem-estar relativo dos animais enquanto são explorados e até serem mortos, admitindo a exploração, o aprisionamento e/ou a morte deles. Não há uma única razão moral válida que possa sustentar essa injustiça. Por isso, defendo que não é legítimo defender a reforma da exploração animal e que temos, isso sim, o dever de defender e promover a abolição de todas as formas de exploração e opressão dos animais não-humanos. Por isso, recuso terminantemente uma posição reformista, que considero ser eticamente errada e inaceitável. Chamar-me-ia, por isso, abolicionista. No entanto, lamento a maneira irrazoável com que o chamado abolicionismo tem sido defendido, nomeadamente por teóricos como Gary Francione. Se as posições que este defende fossem aplicadas exatamente como ele as propõe, estaríamos a prestar um mau serviço aos animais, na minha opinião. As críticas dele às campanhas “single issue” (por exemplo, a uma campanha que aborde apenas os circos com animais ou as touradas ou a experimentação animal) são absurdas. Desde quando é que defender, numa campanha específica, o fim das touradas ou da experimentação animal é admitir que tudo o resto que essa campanha não aborda é aceitável ou menos importante? Na verdade, as campanhas “single issue” são muito úteis para centralizar questões e dar a possibilidade às pessoas de compreenderem os problemas particulares de forma singularizada, sem prejuízo da importância de se articular esses problemas particulares com o problema global, de base, do especismo e das suas implicações. Ao mesmo tempo, e ainda que seja fundamental fazer campanhas e educação a favor do veganismo, não é razoável pensar que isso chega ou que deveríamos apenas dedicar-nos a fazer campanhas acerca do veganismo porque o veganismo abrange tudo. A este propósito, e sem prejuízo da necessidade de promover o veganismo o mais possível, não vejo o que pode haver de errado em conseguir, de imediato, que uma qualquer atividade negativa para os animais possa ser abolida para já, ainda que todas as outras continuem. E não penso que seja perda de tempo apostar tempo e recursos em fazer com que isso aconteça em vez de nos dedicarmos só à defesa do veganismo. São trabalhos complementares que podem e devem ser feitos simultaneamente. Outra crítica que faço a Francione está relacionada com a sua recusa de aceitar qualquer iniciativa em defesa dos animais que seja, ainda que transitória ou instrumentalmente, reformista ou que trate os animais como “coisas”, juridicamente. E explico porquê. Por exemplo, presentemente, em Portugal, os animais são ainda categorizados como “coisas” no Código Civil. A legislação que os protege é extremamente branda e omissa e prevê que qualquer ato de crueldade contra animais, qualquer que ele seja, constitui apenas uma contra-ordenação, ou seja, um delito menor, punível com uma sanção económica (equivalente a uma multa), e não como um crime. Por isso, entendo que, ainda que transitoriamente, e sem prejuízo dos esforços que façamos para mudar a legislação para que seja mais correta e mais justa para os animais (esforços esses que estarão já perto de ser bem sucedidos – o Ministério da Justiça português está a avançar com uma medida nesse sentido e a ANIMAL tem feito o que pode para garantir que essa medida é concretizada), a verdade é que, no imediato, poderemos salvar muitas vidas de animais se não nos limitarmos a tentar prevenir ou punir um ato de crueldade apenas tratando-o enquanto mera contra-ordenação (caso em que a lei considera que, intrinsecamente, esse ato de crueldade é um delito menor), acrescentando-lhe, em vez disso, a dimensão de crime – crime de dano –, uma vez que o animal será de alguém, e portanto será uma coisa de alguém que será danificada (caso em que a lei considera que, extrinsecamente, esse mesmo ato de crueldade é um delito criminal grave), o que, por essa via, poderá permitir salvar a vida a muitos animais e fará uma enorme diferença, no imediato. Não será assim em todos os casos, mas é em muitos. Ainda que essa categoria seja errada, injusta e chocante, se ela permitir salvar uma vida neste momento, deve ser usada. Do meu ponto de vista, não faz sentido atendermos a princípios morais puros de abolicionismo puro, como defende Francione, sem atendermos às suas consequências para os animais. No limite, teremos que analisar questão a questão, caso a caso, devendo sempre lembrar os princípios e afirmá-los, procurando sempre mudar a sociedade e as suas leis para protegerem de forma mais justa e correta os direitos dos animais. Não há qualquer dúvida acerca disso. Mas também devemos fazê-lo não fechando os olhos, no imediato, às consequências das nossas decisões, aos recursos que temos para defender animais e à diferença que isso faz para eles. O ponto é: se esse expediente jurídico for o único que, no momento, me permite salvar a vida a um animal, eu vou usá-lo, ainda que tenha que dizer, em tribunal, que o animal é, juridicamente, uma coisa (acrescentando-lhe, claro, mais elementos argumentativos e fazendo, ainda assim, uma crítica a essa categoria injusta e errada). Se o animal for salvo e ficar bem em resultado disso, isso foi justificado e eu considero que tinha o dever de fazer isso. Tal não impede, porém, que, tanto em tribunal como em qualquer outro contexto, eu continue a apontar e a criticar o mais possível a injustiça e o absurdo de categorizar e tratar os animais como coisas. Mas, se os defendo e se lhes sou leal, não me posso sentar numa poltrona de moralidade completamente desinfectada, escolher não me envolver com questões em que a minha ação pelos animais pode fazer toda a diferença, designadamente usando os recursos jurídicos atualmente disponíveis para tal, e limitar-me a afirmar princípios moralmente puros e a defendê-los apenas na sua forma mais correta, deixando, entretanto, que muitas injustiças sejam cometidas quando podem ser evitadas através destas estratégias e métodos, enquanto se defendem também os direitos dos animais de uma maneira mais abrangente, teórica e moralmente mais correta. Tudo isto serve para dizer que, como o abolicionismo está presentemente muito ligado a Gary Francione e à maneira como ele o apresenta, eu não me considero abolicionista. Sou, no fundo, vegano, ativista e defensor dos direitos dos animais e “no-kill” (só considero aceitável eutanasiar um animal no caso de verdadeira eutanásia, ou seja, em que haja razões éticas e razões clínicas indiscutíveis que, combinadas, o justifiquem, pelo que me oponho terminantemente a políticas como a defendida e executada pela PETA e outras, que matam e advogam a morte de animais por alegadamente não haver lar para eles). É este, de resto, o posicionamento da ANIMAL."

Como podemos nós?...

Como podemos nós, achar, que um animal é uma coisa, nada mais que um objecto, uma jarra, um pau?

Como podemos nós, considerar que um cão ou um gato, não sente frio no gélido Inverno, que não sente sede, que não sente fome, que resiste ao intenso calor, que não padece de tristeza, ou pula de alegria, que não sente...?

Como podemos nós, achar, que um cão vive bem e feliz, acorrentando uma vida inteira a um cadeado, como se estivesse a cumprir pena de um crime que não cometeu, privado de uma réstia de liberdade?

Como podemos nós considerar, que uma cadela vive serena e lhe apraz ter "ninhandas" de 6 em 6 meses, que gosta de ser constantemente perseguida por matilha de machos (que se ferem nas constantes lutas...), em tempos de cio e por fim, assistir impotente à não sobrevivência dos seus filhotes...?

Como podemos nós, achar, que é engraçado ver as fêmeas terem os seus bebés, porque são pequeninos e engraçados e depois, quando deixarem de o ser, afogam-se no rio, ou depositam-se nos contentores do lixo?

Como podemos nós, espancar, pontapear, queimar um animal, só porque ele está ali, só porque existe e porque o dia nos correu menos bem?

Como podemos nós, comprar animais, a lojas e criadores, quando temos tantos e tantos, a sobre-lotar abrigos de associações, ruas e canis municipais?

Como podemos nós, sustentar negócios ilegais e legais de venda de animais?

Como podemos nós, vestir "peles", que não as nossas, só porque sim, ignorando ou querendo ignorar, o terror que se esconde por detrás daquele bonito casaco?

Como podemos nós, olhar nos olhos de um cão e deixá-lo ficar num canil municipal, condená-lo a uma morte, quase certa e "sofrida"?

Como podemos nós, ser tão frios ao ponto de receber as lambidelas de carinho de um animal e larga-lo à sua sorte, numa qualquer rua, que para o cão ou gato é só e apenas o deserto...?

Como podemos nós, enjaular um cão, só para o tornar um excelente caçador, e se frustrar as expectativas, o caminho será a "selva"?

Como podemos nós, recriminar outras culturas, porque sacrificam em praça pública animais, em função das suas crenças, quando nós também temos telhados de vidro?

Como podemos nós, acreditar que uma cadela/cão, um gato...podem estar melhor se não forem esterilizados ou castrados, considerando neles os nossos receios ou complexos, julgando a situação, em nós?

Como podemos nós, achar, que é melhor vê-los feridos, famintos, doentes, escorraçados, perdidos, desesperados pelo abandono, ao invés da prevenção pelo controle da sua população?

Como podemos nós, achar, que os devemos ignorar, nada fazer por eles, porque no mundo crianças passam fome?

Como podemos nós, achar, que no nosso país eles até são bem tratados", são apenas animais?

Como podemos nós, viver pacificamente, dormir sem pesadelos, quando enfrentamos a realidade de frente?

Como podemos nós, não reagir e agir, quando as promessas não se cumprem?


Como podemos nós, cidadãos, desistir de lutar pelos seus direitos, direito a não ser considerado uma coisa, um objecto, só porque a luta é difícil, porque é mais fácil desistir e porque as políticas e as mentalidades tardam em mudar?

...

Como podemos nós, achar, que sairemos impunes de tanta barbaridade?






Se quiser um animal, tem por exemplo, o canil municipal da Maia, aí encontra entre outros, a
Caramela, já lá está depositada há meses, está no fim da linha da sua curta vida...Por isso, não compre, adopte a Caramela!


Contactos:
Canil Municipal da Maia
Rua da Estação 4470 Maia
Tel.: 229.408.661
E.mail:
ameliasousa2006@gmail.com

..."Esse momento pode ser um desgosto enorme para muitos donos e as suas famílias, mas eu acredito que os animais entram nas nossas vidas para nos ensinar, entre outras coisas, que o envelhecimento e a morte são coisas naturais, que durante a nossa existência devemos encarar e aceitar a morte como apenas mais uma fase do ciclo de vida da natureza. Os cães honram a vida e convivem bem com a morte. Na verdade encaram-na muito melhor do que nós.
Nesse aspecto deveríamos pensar neles como nossos professores. A sua sabedoria natural pode confortar-nos quando tiver-mos de enfrentar as nossas próprias, humanas, fragilidade e morte."...

Do livro "A Paixão de César"

Seja solidário, abrace esta causa!

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Se tem cães desaparecidos misteriosamente, investigue...

"ALERTA MARGEM SUL DO TEJO

Publicado num jornal local ( Noticias Populares), terça feira 15 de Janeiro de 2008


Longa e sem um final feliz. Assim é a história de Óscar, um Pointer Inglês, e a de muitos outros cães furtados. “Bonito e humilde, excelente caçador e acima de tudo, amigo”, descreveu-o o dono, que pediu para não ser identificado. Desapareceu na ultima semana de Fevereiro do ano passado, de um terreno na Fonte da Vaca, e foi encontrado meses mais tarde, num acampamento cigano, no Algarve, já morto. Foi, por isso, num tom de amargura que ouvimos as recordações e toda a historia. Na noite em que desapareceu foram furtados 3 outros cães: um que estava junto do Óscar (rafeiro, que acabou por aparecer no dia seguinte) e dois que estavam no terreno vizinho, também de caça. “Corri tudo à procura do cão. Sou teimoso e entendi que tinha que encontrá-lo vivo ou morto. Falei com vizinhos que me disseram que tinham visto uma carrinha vermelha suspeita a rondar aquela zona, e que a carrinha devia pertencer a ciganos. E foi por isso que comecei a ir a todos os acampamentos que encontrava, sempre a pretexto de estar à procura de um cão de caça para comprar. Uns recebiam-me bem e tentavam vender-me animais, outros eram muito desconfiados e pouco amistosos”, conta José Pereira (nome fictício). Até que um dia, e resultado de muita insistência, soube, por intermédio de um individuo conhecido, que o cão estava em Loulé.
“Arranquei para o Algarve assim que pude, já com algumas referências. Percebi que existe uma espécie de intercâmbio: os cães roubados na nossa zona são enviados para lá e os que são apanhados no sul transportados para cá, para evitar problemas.....Lá voltei a entrar em mais acampamentos, até que acabei por encontrar o Óscar, que já estava morto há uma semana no chão de um terreno onde havia para cima de 200 outros animais. “Chocou-me muito”. E em que condições? “Muito mal tratados, famintos, feridos, cheios de carraças” . Como relatou ao NP, asseguraram-lhe que os cães não eram roubados. “Disseram-me, lá no Algarve que todos aqueles cães estavam abandonados quando foram recolhidos por eles, que depois de acabar a época da caça as pessoas os abandonavam. Chegaram a pedir-me 500€ e 600€ por um cão. Afirma ter conhecimento de muitos outros casos de cães furtados em Pinhal Novo, sobretudo nas zonas rurais, e lamenta, por isso, o pouco que é feito para combater o problema. “Na altura participei à GNR. Tomaram nota mas duvido que tenham efectivamente tomado alguma providência, que possam fazer alguma coisa. E isto é revoltante, porque afinal não há lugares seguros, nem dentro dos nossos próprios terrenos. Não me passava pela cabeça que pudesse haver um negócio assim, tão bem montado. Há ciganos que vivem mesmo da venda de cães e há muitos caçadores que vão aos acampamentos comprá-los.

Mais sorte teve Carlos Santos, morador na Venda do Alcaide, que conseguiu recuperar a cadela Bulldogue Inglês duas semanas depois de lhe ter sido furtada do quintal. Uma história igualmente surpreendente, que acabou com a detenção de um individuo, como contou ao NP. “Assim que me apercebi que a tinham levado, e depois de a procurar por todo o lado, enviei mails aos criadores da raça, coloquei fotografias nos jornais, apresentei denuncia na GNR e espalhei a informação na internet”. Acções que viriam a ser recompensadas. “Passadas quase duas semanas houve um criador que me telefonou a dizer que havia um individuo que tinha uma cadela para vender e pelas informações que lhe tinham sido dadas, tudo apontava que fosse a minha. A transacção iria ser feita em Lisboa, junto ao Amoreiras. Informei a Policia, que ficou de alerta, e no momento em que o individuo abriu a carrinha ( que conduzia sem documentação) para mostrar a cadela ao criador (suposto comprador) eu apareci e vi logo que era a minha”, recorda com satisfação. A cadela estava bem e o sujeito foi apanhado em flagrante. É curioso que se tratou da pessoa de quem sempre desconfiei. Até já tinha falado com ele, que não só me negou que tivesse sido o autor, como ainda me ameaçou com a GNR por estar a difama-lo.
Já Nicolete Silva, que reside junto ao Intermarché do Pinhal Novo, desapareceram 2 cães da raça Serra D’Aires no passado dia 15 de Novembro. “Não entraram em minha casa para me roubarem os cães. Houve um dia em que o portão ficou mal fechado e eles sairam, mas já tinha acontecido antes, davam um passeio e regressavam um pouco depois, mas desta vez só voltou uma outra cadela que tenho.

No ano passado, e segundo os dados da GNR do Pinhal Novo, registaram-se 8 casos de furto de cães na freguesia, numeros que não diferem muito relativamente ao ano de 2006. As suspeitas do ladrão, afirma o cabo Gomes, e “pelas indicações que as pessoas dão, recai na maior parte dos casos, em individuos de etnia cigana, que rondam a zona antes de cometerem o delito. E quais são os cães mais procurados? “Dálmata, Boxer, Rottweiller, Perdigueiro e Labrador, cães de raça com algum valor comercial mais faceis de vender”. No caso de alertas de furto que chegam ao posto (importa ter em conta que há pessoas que não fazem denuncia junto das autoridades, caso de Nicolete Silva) e segundo o Cabo Gomes a GNR do Pinhal Novo faz a divulgação da ocorrência a outras patrulhas no sentido de se procurar o animal. Alguns são recuperados, a maior parte não."

Outros relatos:

http://arcadenoe.sapo.pt/forum/viewtopic.php?t=56046&highlight=ciganos

http://arcadenoe.sapo.pt/forum/viewtopic.php?t=54897&highlight=ciganos



domingo, 22 de novembro de 2009

Vote Earth!

Estamos em tempo de eleições.

Os candidatos são o nosso planeta ou as alterações climáticas.

Quem ganhará?

Submeta o seu voto aqui e leve-o à cimeira de Copenhaga que se avizinha.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Try Again

Só porque sim, porque adoro esta música, fica a sugestão - "Try Again"


"Circo sem animais força criatividade"

Fotografia: (c) Carlos Carreira

"Directora criativa do Cirque Soleil diz que proibição da compra de animais estimulará a criatividade artística

(In DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 18 de Novembro de 2009)

A directora criativa do Cirque Soleil Lyn Heward considerou que a portaria portuguesa que proibe a compra ou reprodução de animais para o circo obrigará os artistas circenses a desenvolver a sua criatividade. Lyn Heward disse no seminário sobre Criatividade, destinado a empresários, em Lisboa, que não era nem a favor nem contra a presença de animais no mundo do circo. "Pessoalmente, adoro animais e não me incomoda vê-los a actuar.", afirmou.

O quê a preocupa é a forma como se encara esse trabalho, como são expostos e transportados. "Ao contrário do ser humano, um animal não toma a decisão de ser artista de circo porque não tem essa capacidade de escolha", frisou.

Lyn Heward até vê vantagens: "Se não puder haver animais no espectáculo, então o ser humano vai ter que desenvolver muito mais a sua criatividade. E isso é óptimo", defendeu. Esta medida não preocupa o Cirque Soleil, que não trabalha com animais.
Este circo canadiano começou com 73 artistas de rua e actualmente tem 20 diferentes espectáculos espalhados pelo mundo e 4.000 empregados, dos quais 1.100 são artistas."

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Um exemplo que podemos seguir...

"St. Louis, 11 Nov (Lusa) - Mais de cem cães "pit bull terrier" envolvidos em lutas de animais nos Estados Unidos estão ser treinados para ter um lar, apesar de algumas vozes os terem considerado inaptos devido aos seus "traumas".

Mais de 120 cães daquela raça foram colocados num abrigo graças aos esforços de associações de defesa de animais. Cerca de 120 aguardam a mesma sorte.

"Não são animais perigosos, são vítimas de abusos", sustentou a vice-presidente da Sociedade Humana do Missouri, Debbie Hillm, acrescentando que os cães "só querem estar em casa de alguém".

Lusa

O que está por detrás da carne que comemos...

" Os Pecados da carne

Esta reportagem pode ser encontrada na Revista Visão n.º 869, de 29 de Outubro de 2009.

Merece leitura atenta.

(Clicar nas imagens para aumentar)" _ Partido pelos Animais









...Não que fosse para mim uma surpresa, mas sinceramente, não fazia ideia de que o cenário se apresentava tão grave e cruel!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"Campanha Nacional de Esterilização de Cães e Gatos Abandonados"

"PONTO DE SITUAÇÃO ACTUAL (5 Novembro 2009)

Uma petição (ver abaixo) que recolheu 3800 assinaturas em mês e meio, uma razoável cobertura dos órgãos de informação, um acolhimento simpático, mais ou menos empenhado, a nível central dos Partidos que nos quiseram receber e a quem fizemos a entrega da petição, algumas respostas de candidatos a munícipes que enviaram e-mails, umas meramente formais, outras revelando a disposição de avançar na resolução local da situação de calamidade em que se encontram os cães e gatos abandonados e negligenciados – mas este pouco que conseguimos não é nada e para conseguirmos reais alterações temos de persistir.

Assim , um apelo para a continuação desta luta foi lançado aos 3 800 peticionários e neste momento ( 5 de Novembro) são quase 400 pessoas em 90 concelhos do país a ofereceram-se para irem às assembleias municipais e reuniões dos executivos camarários apresentar de viva voz as 3 reivindicações centrais desta campanha:

1º- os canis devem esterilizar todos os animais que são dados para adopção. No caso de a Câmara respectiva não possuir os meios técnicos (pessoal ou/e equipamentos) para proceder às esterilizações, deverá pedir a colaboração das Escolas Veterinárias ou/e celebrar protocolos com clínicas veterinárias com vista a assegurar essa esterilização.

2º- os animais abandonados devem ser esterilizados gratuitamente ao abrigo de protocolos entre as Câmaras e as Associações de Animais com vista a estancar e reduzir progressivamente o seu número a curto e médio prazo.

3º – as Câmaras Municipais devem proporcionar aos munícipes com recursos financeiros limitados a esterilização dos animais que possuem. As Câmaras devem referenciar os munícipes que repetidamente entregam ninhadas de gatos ou cães para abate com vista a conseguir a esterilização das fêmeas que procriam."

Campanha de Esterilização Animal


terça-feira, 3 de novembro de 2009

“Ajudo animais que chegaram a confiar na fidelidade humana…”

"Um eterno amigo dos animais. Com os seus quase 80 de idade, Arnaldo Lopes compra, cozinha e distribui diariamente comida a cães e gatos abandonados, em diversos pontos da Arrábida e da cidade.

Teodoro João
red.teodoro@osetubalense.pt


Uma rotina diária, ao final das manhãs. A reportagem de «O Setubalense» acompanhou num destes dias Arnaldo Lopes em mais uma acção de solidariedade para com animais abandonados, espalhados pela serra da Arrábida. Ao final da tarde faz outra ronda, nalguns espaços da cidade, onde distribui comida a cães e gatos igualmente abandonados. Entre a sua oficina e casa, possui dez cães, todos salvos da rua.
O porta-bagagem do seu velhinho carro é uma espécie de restaurante ambulante. “Já podia ter trocado de carro, mas prefiro gastar dinheiro com os animais,” atira com indisfarçável humildade. Todos os dias, parte para a ronda repleto de comida, diversificada e já dividida, para distribuir pelas dezenas de cães e gatos espalhados em locais estratégicos da Arrábida, mais precisamente entre a Comenda e a zona da Secil. “Isto é carne de frango (coxas e asas) que eu compro, aos domingos, cerca de 100 quilos. Depois, todos os dias cozo uma panela grande, juntamente com massas e venho distribuir nestes locais.” começou por explicar o senhor Arnaldo Lopes, antigo sócio da empresa “Coelho e Lopes, Lda”, e que continua a trabalhar na sua oficina de serralharia, sita na Fonte Nova.
“Sabe, sou uma pessoa incapaz de matar uma aranha, osga ou mesmo um rato. Entendo que todos os animais têm uma função e razão de existência. Respeito muito a vida,” divagou o nosso interlocutor, antes da primeira paragem, nas imediações da Secil, onde já o esperavam uma dúzia de gatos, que evidenciaram alegria ao som do trabalhar do carro. Carne de frango cozida, ração para gatos e tigelas para a água. Este hábito vem de muito longe, logo após o 25 de Abril de 1974, época em que este senhor deu aulas práticas de serralharia mecânica e teóricas de matemática industrial, na fábrica da Secil. “Por este caminho sempre houve animais abandonados, comecei a trazer-lhes comer, até hoje, faça sol ou chuva, porque os animais comem todos os dias como nós, não é verdade?”
A visita matinal tem paragem em seis locais estratégicos, à beira da estrada, onde há sempre sinais de espera animal por quem lhes vai matar a fome. “Esta cadelita pariu há duas semanas. Tem os filhos ali para dentro mas ainda não os vi,” diz Arnaldo Lopes numa das paragens. Noutra, outros três cães também esperavam pela refeição diária.
Em todas as paragens, deposita comida e verifica a água, por entre giestas ou canaviais. “O problema é que alguns dos bichos morrem na estrada. Este ano já apanhei cinco atropelados. Trago sempre sacos pretos para esses casos,” acrescenta.
O senhor Arnaldo diz-se consciente de que a sua atitude “não é bem vista” por toda a gente. “Sinto-me melhor assim que estar sentado o dia inteiro numa taberna ou banco de jardim. A minha preocupação não é o que podem pensar de mim, mas sim do que será feito destes animais quando eu não poder vir tratar deles…”

Arnaldo Lopes não esquece aquelas imagens de cães bonitos, de coleira ao pescoço, mas tristes e abandonados à beira da estrada, esperando pelos donos. “Sabe, os animais pensam sempre que o dono há-de voltar, mas já entenderam que eu sou uma instituição para eles…” rematou.
Um caso marcante, junto à Secil:
“A cadela foi para o canil e salvei os oito cachorrinhos” Um caso que marcou Arnaldo: uma cadela pariu oito cães, por si salvos, perto da fábrica da Secil, porque a progenitora foi recolhida pelo canil.
Ainda hoje, tem três desses animais.
Oito cães bebés foram descobertos por Arnaldo Lopes, há cerca de três anos, perto da Secil. Este eterno amigo dos animais soube que a “carroça dos cães” havia recolhido a cadela progenitora, e não descansou enquanto não encontrou as crias. Graças à sua persistência, conseguiu descobrir os indefesos canídeos, dos quais ainda hoje mantém três na sua oficina. “Trouxe os oito cachorrinhos para casa. Eu, a mulher e filha, demos biberão aos bichinhos”, recorda Arnaldo que diz ter contactado a associação de defesa animal ‘Sobreviver’, da qual é sócio, no sentido de recuperar a cadela do canil, para dar de mamar aos filhos, o que foi conseguido. “Já os canitos estavam criados, a cadela mãe acabou por morrer,” lembra.
Entretanto, a referida associação conseguiu donos “para alguns deles, e auxiliou-me no processo de esterilização das três cadelas que continuam comigo, na minha oficina na Fonte Nova.”
Com as sucessivas gerações de animais abandonados, e por si alimentados, Arnaldo chega a pensar na sua idade: “Já não sou novo, caminho para os 80. O que será destes animais quando eu deixar de poder vir aqui? Coitadinhos, nem quero pensar nisso…”

As vasilhas de plásticos - umas com asas, outras com coxas de frango, outras ainda com ração para gatos e cães – fazem parte da azáfama deste senhor. Afinal de contas, é mais um final de manhã, como todas as outras na vida do benfeitor Arnaldo Lopes. Porventura, o único amigo de muitos destes animais que um dia já conheceram alguém a quem confiaram a sua fidelidade.
T.J."

In Jornal "Setubalense"

Arquivo: Edição de 28-10-2009


domingo, 1 de novembro de 2009

"Os Olhos dos Tigres"

"Quando era criança e me levavam ao circo, o que mais me afligia eram os olhos dos tigres. Os olhos assustados e resignados dos macacos, os olhos sem vida de leões e elefantes, os dos cavalos aos círculos na pista, rasos e desorbitados como os dos cavalos dos carrosséis, os das esquálidas pequenas trapezistas, metidas em surrados fatos de lantejoulas e fixando vaziamente um ponto abstracto acima das nossas cabeças enquanto agradeciam, hirtas, os aplausos, entristeciam-me.
Mas nos dos tigres havia impotência e orgulho ferido, como se estivessem enclausurados dentro de si e não coubessem dentro de si. Sentia que nos desprezavam e que desprezavam a parte de si que, às ordens do domador, subia e descia ridículos escadotes ou saltava mecanicamente através de arcos em chamas. E culpava-me por assistir ao penoso espectáculo da sua humilhação, imaginando que deviam (com razão) odiar-nos. A lei que finalmente aponta para o fim do abuso de animais nos circos acaba com um espectáculo tão humilhante para os animais quanto para quem (como acontece igualmente nas touradas) se compraz com a sua humilhação."

(Por Manuel António Pina. In “Jornal de Notícias”, 21 de Outubro de 2009)