quinta-feira, 31 de maio de 2012

S.O.S Planet.




Que bom, o amor dele não vai morrer...


"Desmorrer
Por Miguel Esteves Cardoso

Desta vez, a Maria João teve sorte. Nunca tinha visto uma médica a chorar. Foi a Maria João que puxou as lágrimas, quando a Dra. Teresa Ferreira lhe disse que não havia mais metástases dentro dela. Ficámos os três a chorar e a olhar para os outros olhos a chorar.

A minha amada já tinha esquecido o futuro. Já não queria saber da casa nova, do tecido para forrar os sofás, do Verão seguinte. Estava convencida que estava cheia de metástases. Doía-lhe o corpo todo. Tinha desanimado. Estava preparada para a morte. Só a morte é mais triste. Tinha-se preparado para ouvir o que já sabia, para não se assustar quando lhe dissessem que o cancro na mama tinha voltado e que se tinha espalhado por toda a parte.

Depois - mas não logo, porque não é de momento para o outro que se desmorre - voltou a ver vida pela frente. Reapareceu um horizonte e um caminho até lá, com passos para dar. "São tão raras as boas notícias", disse a médica, "e é tão bom dá-las, vocês não imaginam". Nós não imaginámos. Começámos a chorar. As lágrimas ajudam muito. As dos outros especialmente. Chorar sozinho não tem o mesmo efeito. A Maria João tem chorado por razões tristes. Desta vez estava a chorar de felicidade.

Como chora cada vez que ouve ou lê palavras doces, a dar força, a partilhar a dor, a juntar-se para que ela saiba que há muita gente a sofrer com ela, tal é a vontade delas que ela não sofra. Ou sofra pouco. Embora isto de se ficar vivo também se estranhe um bocadinho."

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Não Há Amor como o Primeiro.


Não há amor como o primeiro. Mais tarde, quando se deixa de crescer, há o equivalente adulto ao primeiro amor — é o primeiro casamento; mas não é igual. O primeiro amor é uma chapada, um sacudir das raízes adormecidas dos cabelos, uma voragem que nos come as entranhas e não nos explica. Electrifica-nos a capacidade de poder amar. Ardem-nos as órbitas dos olhos, do impensável calor de podermos ser amados. Atiramo-nos ao nosso primeiro amor sem pensar onde vamos cair ou de onde saltámos. Saltamos e caímos. Enchemos o peito de ar, seguramos as narinas com os dedos a fazer de mola de roupa, juramos fazer três ou quatro mortais de costas, e estatelamo-nos na água ou no chão, como patos disparados de um obus, com penas a esvoaçar por toda a parte. 

Há amores melhores, mas são amores cansados, amores que já levaram na cabeça, amores que sabem dizer “Alto-e-pára-o-baile”, amores que já dão o desconto, amores que já têm medo de se magoarem, amores democráticos, que se discutem e debatem. E todos os amores dão maior prazer que o primeiro. O primeiro amor está para além das categorias normais da dor e do prazer. Não faz sentido sequer. Não tem nada a ver com a vida. Pertence a um mundo que só tem duas cores — o preto-preto feito de todos os tons pretos do planeta e o branco-branco feito de todas as cores do arco-íris, todas a correr umas para as outras. 

Podem ficar com a ternura dos 40 e com a loucura dos 30 e com a frescura dos 20 — não há outro amor como o amor doentio, fechado-no-quarto, o amor do armário, com uma nesga de porta que dá para o Paraíso, o amor delirante de ter sempre a boca cheia de coração e não conseguir dizer coisa com coisa, nem falar, nem pedir para sair, nem sequer confessar: “Adeus Mariana — desta vez é que me vou mesmo suicidar.” Podem ficar (e que remédio têm) com o «savoir-faire» e os «fait-divers» e o “quero com vista pró mar se ainda houver”. Não há paz de alma, nem soalheira pachorra de cafunés com champagne, que valha a guerra do primeiro amor, a única em que toda a gente perde e toda a gente morre e ninguém fica para contar como foi. 

Não há regras para gerir o primeiro amor. Se fosse possível ser gerido, ser previsto, ser agendado, ser cuidado, não seria primeiro. A única regra é: «Não pensar, não resistir, não duvidar». Como acontece em todas as tragédias, o primeiro amor sofre-se principalmente por não continuar. Anos mais tarde, ainda se sonha retomá-lo, reconquistá-lo, acrescentar um último capítulo mais feliz ou mais arrumado. Mas não pode ser. O primeiro amor é o único milagre da nossa vida — «e não há milagres em segunda mão». É tão separado do resto como se fosse uma primeira vida. Depois do primeiro amor, morre-se. Quando se renasce há uma ressaca. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

terça-feira, 29 de maio de 2012

Cantiga, Partindo-se

Senhora, partem tão tristes
Meus olhos, por vós, meu bem,

Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.


João Roiz de Castelo Branco (século XV)

...E assim vai o nosso belo Portugal...


"Subsídios para as touradas.

Por falar em subsídios, no passado dia 21/03/2012 foi publicada no Diário da República a lista dos subsídios atribuídos pelo IFAP no 2.º semestre de 2011, tal como se havia publicado a listagem relativa ao 1.º semestre de 2011 no dia 26/09/...2011.

No ano de 2011 o IFAP atribuiu subsídios no valor de € 9.823.004,34 às empresas e membros das famílias da tauromaquia:


Ortigão Costa - 1.236.214,63 €
Lupi - 980.437,77 €
Passanha - 735.847,05 €
Palha - 772.579,22 €
Ribeiro Telles - 472.777,55 €
Câmara - 915.637,78 €
Veiga Teixeira - 635.390,94 €
Freixo - 568.929,14 €
Cunhal Patrício - 172.798,71 €
Brito Paes - 441.838,32 €
Pinheiro Caldeira - 125.467,45 €
Dias Coutinho - 389.712,42 €
Cortes de Moura - 313.676,87 €
Rego Botelho - 420.673,80 €
Cardoso Charrua - 80.759,12 €
Romão Moura - 248.378,56 €
Brito Vinhas - 53.686,78 €
Romão Tenório - 283.173,89 €
Sousa Cabral - 318.257,79 €
Varela Crujo - 188.957,35 €
Assunção Coimbra - 330.789,44 €
Murteira - 137.019,76 €

Andam os canis municipais a matar cães e gatos porque não têm mais espaço para os acolher e há 10 milhões de euros aplicados na tourada só no ano de 2011? As associações vivem de CARIDADE! Tal como os velhotes que nem têm dinheiro para pagar os medicamentos com a porcaria de reforma que recebem!

Este Verão vamos ver mais e mais florestas a arderem porque as câmaras não têm subsídios para a limpeza das mesmas, e Portugal não tem dinheiro para comprar helicópteros. Andam as esquadras da polícia podres e os carros enfiados em garagens porque não há fundos para os arranjar.

Andam as crianças a ir para a escola sem tomar o pequeno almoço porque há famílias que só têm dinheiro para pagar as rendas, para não dormirem na rua. Foram cortados subsídios de Natal para ajudar a pagar a dívida portuguesa ao estrangeiro.

Não há dinheiro para nada mas há 10 MILHÕES DE EUROS para a tauromaquia só num ano?"

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Ser vegetariano...

Prova de que ser vegetariano não é sinónimo de falta de saúde, bem pelo contrário, é a seguinte lista de vegetarianos famosos...para além dos que faltam... Inspira-te!





sexta-feira, 25 de maio de 2012

"Where did dogs come from? It turns out we don't really know"

Qual será afinal a origem do cão? Nem todos os cientistas são unânimes quanto à teoria, que diz; serem os cães descendentes dos lobos...


"Dogs were the very first creatures that humans domesticated, and their remains have been found along with those of humans from before we even had basic things like agriculture. And, with the advent of molecular tools, researchers were able to identify the animal that was domesticated (the gray wolf), as well as a handful of breeds that appear to be "ancient," and split off close to the source of domestication."(...)

Fonte e desenvolvimento, aqui - Ars technica.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Espera

Horas, horas sem fim,
graves, profundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.


Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um passáro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.


Eugénio de Andrade

movies and words...


terça-feira, 22 de maio de 2012

"8 mitos sobre o vegetarianismo"


"Saiba quantos portugueses não comem carne, onde encontrar respostas para as suas dúvidas, conheça lojas especializadas e restaurantes com ementas especiais e descubra se sempre é verdade o que se diz sobre vegetarianos.

Há 30 mil vegetarianos em Portugal. Esta foi uma das conclusões de um estudo realizado pela Nielsen, no final do ano passado, para o Centro Vegetariano, um site português dedicado a esta temática. O tempo em que ser vegetariano era visto como atitude excêntrica já lá vai. Há mais informação, mais restaurantes, mais alternativas nos restaurantes tradicionais, mais lojas, mais produtos, mais acessibilidade."(...)

Fonte e desenvolvimento, aqui - JN


"European tourist countries ~ the ugly truth"

No que à forma como tratamos os animais diz respeito, é assim que somos vistos pelo resto da Europa; país de terceiro mundo, cruel, sem humanismo, sem evolução civilizacional, de mentalidade retrograda...comparado a países do leste...uma região a evitar pelos turistas!... 
Eu pessoalmente sinto muita tristeza e vergonha, por ter nascido numa terra que trata desta forma os seus animais... 


Obrigatório ver, link - Ocupy for animals. (Imagens graficamente fortes...)





segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Teu Olhar nos Meus Olhos


Sempre onde tu estás
Naquilo que faço
Viras-te agarras os braços

Toco-te onde te viras
O teu olhar nos meus olhos

Viro-me para tocar nos teus braços
Agarras o meu tocar em ti

Toco-te para te ter de ti
A única forma do teu olhar
Viro o teu rosto para mim

Sempre onde tu estás
Toco-te para te amar olho para os teus olhos.


Harold Pinter, poeta inglês (1930-2008), in "Várias Vozes"

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Um excelente exemplo!

"Depois dos bons resultados alcançados o ano passado, o Canil Municipal de Lagos volta a promover uma Campanha de Castração gratuita de cães e gatos, com o objetivo de continuar a controlar esta população animal."



Isto é que é um excelente exemplo a seguir por todas as Câmaras! Já agora, quem puder, aproveite para esterilizar o seu amigo de 4 patas - é um bem que lhe faz!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

"Oportunidade, disse ele"

Que o desemprego é uma oportunidade, disse ele, talvez pensando no mercado de trabalho como um ambiente líquido, onde se navega na fluidez absoluta, ou saltando de nenúfar em nenúfar, abrindo janelas a cada novo emprego.

Que alegria, imaginais melhor sorte do que ter tempo para as promoções ou os descontos ou os saldos ou a feira ou a orgia ou a dinâmica de grupo ou lá o que é aquilo do Pingo Doce, podeis agora saltar, pular, esfaquear, comer as migalhas da casa grande e esquecer a luta de classes; que oportunidade para sairdes da caverna e receberdes a luz do liberalismo, o mundo é vosso, o futuro é vosso, há "low-costs" como dantes havia as auto-estradas para quando abandonardes este país, aliviando a panela de pressão. Ide e levai a boa nova deste reino onde a flexibilidade é a lei, uma corda que nunca rompe, que estica sempre e até sempre. Ide e levai o dízimo.

Que o desemprego é uma oportunidade, disse ele, mas pensava nos empresários, que assim podem baixar salários e exportar mais, qualquer dia a China e a Índia pedem-nos a receita, como é bom explorar em Portugal.

Que não ter dinheiro para os tratamentos ou o transporte ao hospital é uma oportunidade, para desintoxicar, abrir horizontes, amar a ecologia, des-medicalizar, combater o bio-poder e viver das ervinhas medicinais.

Que deixar o curso por não ter dinheiro para as propinas é uma oportunidade, pode o rapazola procurar emprego e se não há emprego há oportunidade e se não há oportunidade talvez haja oportunismo.

Que a pobreza é uma oportunidade, para ser-se honesto, humilde, servil e os pobrezinhos, já se sabe, vivem no coração das damas caridosas.

Que mexer, reformar, reestruturar, relançar, desmontar, inventariar é uma oportunidade para ferir a rotina de morte, não há nada como a instabilidade, a adrenalina de não saber o amanhã, o imprevisto é "sexy" e mobilizador, agora todos somos radicais, extremistas da economia, revolucionários da mais-valia, ai este erotismo de mercado, salivo com a oferta e a procura como bestas sádicas à solta, que frenesim, que excitação.

Que morrer é uma oportunidade: o défice melhora, as agências funerárias facturam, os padres oram e os campos agradecem.

Crónica de João Teixeira Lopes no P3.

Paraísos envenenados!

Se os turistas não alimentassem esta barbaridade, isto (tortura de animais para divertir turistas...) não existia! E não são apenas os macacos a sofrerem estes horrores, exploram também com o mesmo objectivo; os elefantes, os ursos, etc,etc...por estas e outras razões, não coloco os pés nestes países...turismo de tortura!...


Sociedade morta de humanismo...

"Nós estamos a assistir ao que eu chamaria a morte do cidadão e, no seu lugar, o que temos e, cada vez mais, é o cliente. Agora já ninguém nos pergunta o que é que pensamos, agora perguntam-nos qual a marca do carro, de fato, de gravata que temos, quanto ganhamos..."

José Saramago.

terça-feira, 15 de maio de 2012

"Sopa de Plástico" flutuante no Pacífico norte...

Como é possível que não se tomem medidas sérias para resolver esta situação...e como é possível, que nos dias de hoje, os nossos vizinhos ainda não depositem o lixo na reciclagem...que ainda e de forma serena atirem papeis, embalagens várias, "beatas" de tabaco e tudo o resto para o chão...para quando uma cultura evoluída, verdadeiramente ecológica e cívica?!



Uma ilha de lixo flutua ao largo da costa da Califórnia, no oeste dos EUA, como um gigantesco testamento da dependência dos seres humanos de objetos de plástico e da sua incapacidade de se desfazer deles de forma apropriada.

Qual é o tamanho desse pedaço do oceano? Alguns dizem que é do tamanho da Província de Quebec, no Canadá, ou 1,5 milhão de quilômetros quadrados – o tamanho do Estado do Amazonas. Outros dizem que essa massa de lixo que se aglomerou por causa das correntezas é do tamanho dos Estados Unidos – ou 9,6 milhões de quilômetros quadrados. Mas poderia também ser o dobro disso. Do The Wall Street Journal.

A Grande Mancha de Lixo do Pacífico, como é chamada, é uma metáfora monumental para o problema mundial do lixo, usada pelos ambientalistas para dramatizar o problema de como lidar com o acúmulo de detritos. Mas essa massa flutuante de plástico é difícil de medir, e poucas pessoas estão de acordo sobre qual é seu tamanho. Isso torna difícil determinar o que fazer a respeito. Matéria de Carl Bialik, The Wall Street Journal.

Isso não impediu que alguns ativistas e a mídia usassem apenas as maiores estimativas do tamanho da massa para advertir para uma catástrofe ambiental.

“Descobrimos que isso (a ilha) captura a imaginação e o foco do público”, diz Eben Schwartz, do programa de lixo marinho da Comissão Costeira da Califórnia, uma agência estatal. No entanto, “embora tentemos caracterizar o problema de forma precisa, há o risco de caracterização errada”.

A porção do oceano com grande concentração de plásticos descartados é um produto do movimento das correntes, conhecido com Redemoinho Subtropical do Pacífico, que junta e concentra os detritos. A área chamou a atenção pública graças ao esforços de Charles Moore, um carpinteiro que se transformou em capitão-do-mar que navegou pela área em 1997 e ficou chocado ao encontrar rejeitos de plástico a centenas de quilômetros da costa. “Isso detonou o alarme e o meu desejo de monitorá-lo, me fez querer quantificá-lo, saber a melhor forma de lidar com ele”, diz Moore, um oficial de marinha mercante. Ele criou a Fundação de Pesquisa Marinha Algalita para estudar essa área do oceano e divulgar o problema do plástico.

Pesquisadores da fundação tentaram quantificar o redemoinho navegando em alto-mar no Pacífico e catando plástico e plâncton com o uso de um coador que parece uma grande arraia. Coar toda a superfície da área para recolher o plástico seria impossível e, por isso, os barcos da fundação Algalita pesquisam uma pequena amostra, como fazem os pesquisadores de opinião em sondagens eleitorais.

Mas é difícil saber como extrapolar as descobertas deles para toda a região. As bordas do redemoinho mudam conforme as estações e alguns cientistas, como Holly Bamford, diretora da programa de detritos marinhos da Administração Nacional da Atmosfera e dos Oceanos, ou Noaa, uma agência do governo americano, alegam que a região de alta concentração de plástico está confinada a uma pequena área do redemoinho.

“Admiro Charles”, afirma David Karl, um oceanógrafo da Universidade do Havaí. Mas a estimativa de Moore quanto ao tamanho da mancha de plástico – quase duas vezes o tamanho dos EUA – é considerada um chute por Karl. “Ele não sabe o limite” da área.

Moore baseou-se em modelos de correntes marítimas de um cientista aposentado para fazer uma estimativa do alcance da sopa de plástico. “Fiz uma estimativa grosseira, pegando um globo e colocando minha mão sobre a área definida por essa corrente e colocando minha mão sobre o continente africano” para ver como os dois se comparavam. “A parte da sopa condensada pode ser consideravelmente menor”, admite. Mas ele critica os que “se sentam em gabinetes de Washington e dizem que a coisa não é tão ruim”.

Bamford diz que unidades de medida inconsistentes do problema têm impedido a pesquisa. “Estamos tentando desenvolver um método padronizado”, diz ela da Noaa, “para que possamos realmente saber como isso se compara com vários locais ao redor do mundo.”

Parte das informações equivocadas sai de outros grupos ambientalistas que exageram as pesquisas alarmantes. O colunista ambiental David Suzuki escreveu sobre uma “ilha de lixo plástico enorme, em expansão, com dez metros de profundidade e maior que a província de Quebec”. Perguntado se a região com alta concentração de plástico poderia ser realmente chamada de ilha, Bill Wareham, um especialista em conservação marinha da Fundação David Suzuki, diz: “Não vai parecer uma ilha no contexto de ‘Olha, posso caminhar nisso’. Mas é uma densidade muito alta de plástico.” Ele acrescenta: “David fala de uma maneira em que ele molda a questão para que as pessoas possam entendê-la.”

Mesmo que cientistas e ambientalistas possam concordar quanto ao tamanho e à concentração de plástico no redemoinho, não se sabe o que eles podem fazer com as informações que coletam. Os detritos de plástico têm o potencial de lesar pássaros e mamíferos que os comem, porque carregam toxinas, podem causar feridas internas e enganar os animais fazendo-os pensar que estão saciados. Mas é difícil ter números concretos. “É muito difícil dizer que um pássaro morreu por causa de plástico no estômago”, diz Bamford.

Embora ninguém ache que os possíveis benefícios do plástico compensam os riscos, Karl, da Universidade do Havaí, encontrou algumas vantagens – uma alta concentração de microorganismos nos detritos. “Os microorganismos são bons para o oceano, porque eles produzem oxigênio”, diz.

* Matéria [How Big Is That Widening Gyre of Floating Plastic?] do The Wall Street Journal, no Valor Econômico, 25/03/2009.

[EcoDebate, 27/03/2009]




A situação mantém-se e tem vindo a agravar-se de dia para dia...

http://www.midwayfilm.com/
Este pequeno vídeo de (3:55 minutos) mostra uma ilha que está localizada no Oceano Pacífico, a 2.000 km do litoral.
Nesta ilha não vive ninguém a não ser as aves, e ainda ... 

E ainda - "Vai haver cada vez mais ilhas de lixo no meio dos oceanos".


segunda-feira, 14 de maio de 2012

O amor é inextricável, por Miguel Portas.


E-mailei eu: «Joana, salva-me, aceitei uma palestra sobre Os sentidos do Amor e não sei que diga.» Tinha feito asneira e estava desesperado. E-mailou ela: «Miguel já tens idade para saber que o amor não tem qualquer sentido». Ela tinha razão, mas não era esta a ajuda de que eu precisava. Muito menos de um passeio a livros antigos. Amor em forma de doutrina e revisão de matéria dada não casam comigo. As variantes literárias também não, acabo sempre na pieguice. Sobrava-me um recurso e foi por esse que segui. Comprei a Ana e a Maria, mergulhei na sabedoria popular e finalmente voltei a dar razão à Joana – o amor é inextricável.

* * *

Para a Ana e a Maria, o amor é destino.

Se você for do signo do Leão, na semana entre 26 de Março e 1 de Abril, aproveite: «A época é muito positiva e prática no que se refere a amor e sexo. O romantismo de uma ceia a dois ser-lhe-á insuficiente». O voo tem um único senão: «será preferível com um conhecimento já existente pois a altura não favorece novos relacionamentos».

E o amor é um acaso.

«Podemos estar a viver uma vida calma e monótona, mas no momento seguinte encontramo-nos a trocar olhares com alguém que nos faz sentir atrevidos». Tais instantes «apanham-nos desprevenidos e podem mudar o curso das nossas vidas». Aliás, «a atracção sexual é frequentemente semelhante a loucura». Porquê? Porque «duas pessoas racionais que mal se conhecem são capazes de se comprometerem para o próximo meio século». É verdade, ele há gente para tudo.

O amor é estúpido.

Edna O'Brien, escritora de desconcertante lucidez reconhece: «Tenho tendência para me sentir atraída por homens altos, magros e bonitos que são, todos, uns sacanas dissimulados.» Fica sem se perceber se é porque os opostos se atraem, ou pelo contrário.

E o amor é uma doença.

«Os apaixonados têm a sensação de se conhecerem há muitos anos.» E «é comum pensar-se que o amor jamais terá fim». De facto, não é normal. E deve ser por isso que, «devido à sua intensidade, o nosso organismo só suporta viver em estado de paixão durante três meses».

Até agora relatei amores porreiros.

* * *

Acontece que o amor é muito complicado.

Quem o jura é João Portugal, o Ricky Maertens do meu bairro. O rapaz tem muita dialéctica. Diz que «a felicidade depende do amor» e que é «extremamente feliz». Ama que se farta e é aqui que as coisas se complicam. Para uma relação demorar muito tempo, «tem que existir amor». Mas ele, apesar de feliz, acha que «o desgaste surge quando as pessoas estão todos os dias uma com a outra» e por isso prefere «uma boa fórmula para manter uma relação»: não ver a miúda três ou quatro dias por semana. Assim rende mais, mas vêem como é difícil?

E o amor é muito simples.

Sem ironia, os consultórios das duas revistas são bons. Fogem ao moralismo, aumentam a auto-estima das leitoras e ajudam-nas a pensar que são mais livres do que na realidade são. O G.L. acha que o amor é uma algibeira. Está desiludido porque «as mulheres só se aproximam por causa do dinheiro que tenho». O consultório aconselha-o a não praticar «extravagancias monetárias» e que informe as candidatas de que «nunca se casaria sem total separação de bens». A M.S., por seu lado, tem 18 anos e descobriu que uma relação nunca é a dois. Há quase sempre a família de permeio e o Espírito Santo por cima. Ela adora um rapaz de «classe social baixa» que a família, boa pois claro, detesta. O consultório não vai de meias medidas: «opte pelo que a faz mais feliz mesmo que isso implique deixar entes queridos de fora».

O amor é uma surpresa.

«Um dia a minha mulher contratou os serviços de um prostituto e fiquei surpreendido e ao mesmo tempo excitado. Agora ela quer repetir. Que devo fazer?» O consultório é lapidar: «Não existe razão alguma para o leitor aceitar um relacionamento que lhe desagrade. Fale com a sua mulher. Mas não fique apenas numa posição crítica. Mostre também as suas fantasias, procure surpreendê-la.» Tarantantan...

E o amor é um desatino.

O D.M. encontrou a sua esposa «na cama com a melhor amiga. Mais tarde, confessou estar apaixonada por ela. A verdade é que não a consigo esquecer».

Ela conseguiu e lá terá as suas razões. Por isso, o consultório diz que «é preciso respeitar, embora o leitor deva avaliar se é uma experiência passageira» E remata: «implorando e humilhando-se ninguém consegue conquistar o amor do parceiro».

Mas há mais, muito mais. Porque o amor pode ser terrível.

«Namorei mas não resultou porque lhe batia muito e era muito ciumento. Só sinto desejo sexual por prostitutas», confessa B.S.. Diagnóstico do consultório: «O leitor tem sérias dúvidas acerca das suas possibilidades. Foram elas que estragaram o seu namoro. Batia e tinha ciúmes porque não era capaz de acreditar no amor da sua namorada.» Está na altura de «pedir ajuda a um técnico especializado». Antes que alguém o ponha atrás das grades, digo eu.

* * *

Embora dirigidas a raparigas, a Ana e a Maria também destacam, com fotogramas, humilhações inversas. Em O Cravo e a Rosa, uma tal de «Dinorá provoca Cornélio que dorme no tapete... e consegue que este volte a beijar-lhe os pés... ficando satisfeita por ter conseguido domá-lo». Esta criatura promete bem mais que a Alma dos Laços de Família e anuncia a vingança das mulheres no limiar do novo milénio.

Também fiquei a saber que o amor é pudor e discrição.

«Cameron Diaz não aparecerá nua. Leto, o novo namorado da actriz, vetou a sua participação no filme Stuck Nowhere, pela existência de uma cena de nu onde apareceria ao lado do ex-namorado, Matt Dyllon. Cá na minha, a coisa ainda acaba em divórcio. Foi o que aconteceu com Dennis Quaid, que exige da ex-companheira «a custódia do filho e a módica quantia de seis milhões de dólares».

E o amor é exibição.

Na rubrica de mensagens, à «deusa do amor» deu-lhe para a literatura: «Sabes que te levo comigo e que, para onde vás, eu irei, como um anjo que me guarda e com as suas asas me aquece, como um ser apaixonado que nem de noite te esquece.» Esta é forte. Estão a ver porque rasgo tudo o que deliro escrever? Já o príncipe Carlos não tem estes problemas, até podia ser analfabeto. «Ele tudo fez para preencher com amor o vazio deixado por Diana. Tem efectuado operações de charme junto dos súbditos – ao que um rei se obriga, coitado! –, está mais humano e ri em público. Com tudo isto, conquistou bons níveis de popularidade, de tal forma que ate' o cada vez mais assumido romance com Camilla Parker-Bowles deixou de ser olhado com desconfiança pelo povo.» Mais ou menos o mesmo se passa com Martha da Noruega e Victória da Suécia: «Simpáticas e cultas, ambas fazem parte do restrito grupo das solteiras mais desejadas da Europa. Por razões óbvias.»

Esta é um pouco estranha. Porque o amor não é só dinheiro, garante uma «viúva rica» que o quer partilhar com alguém. E há outra, nos classificados, de 53 anos, disposta a receber «cavalheiro que realize pequenos e grandes trabalhos domésticos. Fornece cama e outros acessórios de lingerie». Será que o desespero do desamor só toca os simples?

* * *

Fim de viagem.

Devo dizer-vos que a Ana e a Maria, embora tributárias do amor romântico, são expressões populares de uma mudança positiva em matéria de comportamentos. Elas andam a par das telenovelas. E mil pontos acima do Big Brother. Aí, o mais recente amor é o do Gaspar pela Big. Um é cão, outro cadela e se os animais votassem quem ganhava era ela.

11 de setembro – Viragem, por Miguel Portas

Outro filme a boicotar...


Crueldade no cinema
Cineasta americano mata 2 cervos e cozinha sua carne durante as filmagens

Um cineasta do Brooklyn (EUA) está enfrentando problemas com as autoridades estaduais, pois uma cena de seu filme pós-apocalíptico apresenta a matança de dois cervos, de acordo com reportagem da DNAinfo.com.

O filme teve a sua estreia em abril, no Tribeca Film Festival, um festival de cinema que ocorre anualmente em Manhattan.

O diretor Ben Dickinson gravou a cena como parte de uma sequência de 23 dias para seu filme, “First Winter”. O filme trata de um grupo de jovens new-hippies do Brooklyn, que são forçados a sobreviver na selva após um evento apocalíptico. A cena foi gravada no ano passado em uma fazenda particular em Nova York, de acordo com DNAinfo.com.

Os atores não só mataram os cervos sem licença, mas também fora da época de caça aos cervos.

“Nós somos idiotas. Nós não sabíamos como fazer essas coisas “, Dickinson disse em entrevista à DNAinfo. “Havia tantos cervos fracos devido ao inverno e prestes a serem comidos pelos cães locais, que nem sequer pensamos nisso”, acrescentou.

A equipe de produção do filme teria sido vista praticando yoga no set, quando alguém avistou uma manada de cervos em um campo vizinho, relatou a DNAinfo. Uma das estrelas do filme, Paul Manza, de 34 anos, pegou um rifle e puxou o gatilho.

De acordo com a DNAinfo, a bala atingiu dois cervos, matando um e ferindo o outro. A equipe acabou baleando o cervo ferido para abreviar a sua agonia. O grupo, então, arrancou a pele de um dos cervos, cortou a sua carne e a cozinhou em frente à câmera.

” Foi incrível comer a carne e realmente sentir o espírito do animal “, disse Manza. “Isso me proporcionou uma sensação diferente de comer animais e derivados”.

Um porta-voz da agência ambiental do estado disse que estão investigando o incidente e que as sanções para a caça sem licença poderão gerar desde uma multa de US $ 2.000 até a prisão dos envolvidos.

Não houve muitas notícias sobre o filme e a morte cruel dos cervos na mídia desde abril, nem há informações atualizadas quanto ao fato do diretor ter sido julgado ou multado. Parece que o caso foi e está sendo bastante abafado pela Imprensa, ou realmente algo levou a mais uma situação de impunidade, em que não se levou em consideração a perda estúpida de duas vidas inocentes e indefesas. O depoimento do ator à DNAinfo também foi de extremo mau gosto.

Fonte: ANDA - Agência de Notícias de Direitos dos Animais.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

"Viver no fim dos Tempos".

"Quando nos são mostradas imagens de crianças que morrem de fome em África, incitando-nos a que façamos qualquer coisa para os ajudar, a mensagem ideológica subentendida é do género: 'Não pense, não politize, esqueça as causas da miséria, aja, contribua com o seu dinheiro, de modo a não ter de pensar!' Rousseau compreendera já perfeitamente a má-fé dos admiradores multiculturalistas das culturas alheias, quando, no 'Émile', nos alertava contra o 'filósofo que ama os tártaros para se dispensar de amar o seu vizinho mais próximo'." 

Slavoj Žižek, 'Viver no Fim dos Tempos'

quarta-feira, 9 de maio de 2012

AMIGO.


Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!


"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo, 
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!


"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!


"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!


Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca

Rio+20: porque razão ninguém fala dele em Portugal?


Há dois anos e meio, a Cimeira de Copenhaga – o COP15 – foi amplamente falada e noticiada em Portugal. Vista como uma das mais importantes conferências ambientais de sempre, a Cimeira do Clima da capital dinamarquesa foi, durante os seus 11 dias – e nos meses anteriores -, um dos assuntos mais comentados em Portugal.
Passaram quase três anos e eis-nos na contagem decrescente para uma nova cimeira das Nações Unidas, o Rio+20. Uma das mais importantes cimeiras de sempre relacionada com a economia verde e o desenvolvimento sustentável, o Rio+20 tem o condão de não só comemorar os 20 anos da Cimeira da Terra, de 1992, como realizar-se no Brasil, um dos Países que mais está na moda em Portugal: é para lá que as empresas portuguesas se querem internacionalizar, é em terras brasileiras que já vivem muitos dos melhores profissionais portuguesas, à procura da pujança da sua economia de BRIC.
Então, porque razão não se fala, em Portugal, no Rio+20. “O contexto agora é muito diferente. Há um tema que domina grande parte da atenção pública e mediática, que é o da crise. Dentro do próprio País, a actividade na área da sustentabilidade é bastante débil – sobretudo no Governo, mas também nas empresas – por falta de dinheiro e pelo entendimento de que é preciso fazer a economia crescer a qualquer custo”, explicou ao Green Savers o jornalista Ricardo Garcia.
Em Dezembro de 2009, Ricardo Garcia foi o enviado do jornal Público a Copenhaga. Hoje, este é um luxo a que muitos jornais não podem recorrer. “Os próprios órgãos de comunicação social estão mais debilitados, em termos de recursos. As redacções estão cada vez mais pequenas e o número de jornalistas especializados está a diminuir. Isto já acontecia em 2009, quando ocorreu Copenhaga, mas nessa altura havia uma enorme expectativa em torno daquela cimeira, que gerou um interesse maior”, explica agora Ricardo Garcia. “O Rio+20 não está a criar nada parecido em termos de expectativa”, concluiu o jornalista.
Segundo o director-executivo da Oikos, João José Fernandes, há explicações para esta falta de interesse português no Rio+20, mas a justificação “não existe”. “As explicações estão relacionadas com a tradicional apatia dos cidadãos e das instituições portuguesas com a política internacional e com a cooperação para o desenvolvimento. Esta tendência acentuou-se nos últimos anos – desde 2008 – com a crise económica e com as medidas de austeridade em que o nosso país está mergulhado”, revelou o responsável ao Green Savers.
Segundo João José Fernandes, quando muitos portugueses têm o “prato meio vazio”, dificilmente têm “paz de espírito para reflectir sobre as inevitáveis consequências do esgotamento dos recursos naturais, da perda de biodiversidade, das alterações climáticas, da crise energética ou da inexistência de soberania alimentar do nosso país”.
“O imediatismo é sempre um mau conselheiro, mas é o que fala mais alto. As organizações da sociedade civil (por exemplo as ONGD e as ONGA) sentem hoje mais dificuldades no agendamento político de causas globais do que em 1992 ou 2002. A explicação é simples: menos apoio efectivo por parte de uma classe média em empobrecimento e falta de respeito por parte dos governantes e do Estado”, continuou o responsável.
Em 1992 e em 2002, a delegação oficial portuguesa ao Rio de Janeiro e a Joanesburgo foi preparada e integrou elementos de organizações da sociedade civil. “A falta de visibilidade do Rio+20 na comunicação social decorre do alheamento dos cidadãos, da impotência das organizações da sociedade civil, da apropriação indevida por parte das grandes empresas em torno do discurso do desenvolvimento sustentável (greenwashing) e da ignorância – e falta de mundo – de uma boa parte dos nossos líderes políticos”, de acordo com o director-executivo da Oikos.
Pouca mobilização das ONG
O alheamento da sociedade está também relacionado com a pouca mobilização das ONG. “Raramente surge informação quanto ao Rio+20 vinda das ONG, com excepção de algumas, como a Quercus ou a Oikos. Outras instituições também estão pouco activas”, explica Ricardo Garcia.
“A Oikos é pioneira” – avisa João José Fernandes. “Mesmo perante [alguns] os constrangimentos, estamos envolvidos na promoção de duas iniciativas de grande envergadura e potencial: uma campanha e petição a nível mundial para a criação de Provedores de Justiça para as Gerações Futuras; e na promoção de uma União Global para a Sustentabilidade”, explica.
Os Provedores de Justiça para as Gerações Futuras, de acordo com o responsável, são figuras independentes dos Governos, com poderes de monitorização das decisões tomadas pelos Órgãos Executivos, de modo a avaliar o seu potencial impacto nas gerações futuras. Serão estabelecidos a uma base nacional e internacional.
Já a União Global para a Sustentabilidade é uma iniciativa que surgiu no Brasil e que está a ser alargada paulatinamente à América Latina, mas que pretende ser global. “A Oikos já se comprometeu a promover esta união, que visa não apenas exigir, mas actuar na promoção de sociedades mais prósperas, felizes, justas, seguras e em equilíbrio com o ambiente”, recorda o responsável.
“É um facto [que o Rio+20] é uma conferência que não está a mobilizar muito”, conclui Ricardo Garcia. “Mas acredito que, quando chegarmos perto do evento, as coisas vão mudar. Embora eu desconfie que, pelo menos em Portugal, [o Rio+20] não despertará tanto interesse como outras cimeiras da ONU”.
E o leitor, conhece alguma instituição que esteja a promover o Rio+20 em Portugal? Como podemos fazer chegar a importância da transição para a economia verde aos cidadãos portugueses? Enviem-nos as vossas propostas e ideias. E ajudem a partilhar a conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável junto dos vossos amigos e contactos.

Siga-nos no Twitter e Facebook. E no site, claro.

Fonte: Green Savers.

terça-feira, 8 de maio de 2012

POEMA À MÃE


No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Hipocrisia humana...

Mauriac, perito nos mil arcanos onde se refugia a hipocrisia humana, sempre pronta a ver o mal no mundo como obra dos outros, quando não de Deus, e jamais como obra nossa, desafiava assim o farisaísmo dos que se desculpam com o espectáculo da miséria universal para não verem nem remediarem aquela que mais deve importar-nos: a que está próxima, no sentido próprio e figurado. A começar pela nossa, naturalmente". 

Eduardo Lourenço.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

movies and words...



"At the end of Eternal Sunshine of the Spotless Mind, they keep looping the part when they run in the snow...
In the original script, we were told that they keep erasing themselves and getting back together. The looping therefore means that their happiness will only be temporary and they’ll keep doing the same mistakes. But for now, they’re in love..."

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Personagem.

Teu nome é quase indiferente 
e nem teu rosto já me inquieta. 
A arte de amar é exactamente 
a de se ser poeta. 



Para pensar em ti, me basta 
o próprio amor que por ti sinto: 
és a ideia, serena e casta, 
nutrida do enigma do instinto. 


O lugar da tua presença 
é um deserto, entre variedades: 
mas nesse deserto é que pensa 
o olhar de todas as saudades. 


Meus sonhos viajam rumos tristes 
e, no seu profundo universo, 
tu, sem forma e sem nome, existes, 
silêncio, obscuro, disperso. 


Teu corpo, e teu rosto, e teu nome, 
teu coração, tua existência, 
tudo - o espaço evita e consome: 
e eu só conheço a tua ausência. 


Eu só conheço o que não vejo. 
E, nesse abismo do meu sonho, 
alheia a todo outro desejo, 
me decomponho e recomponho. 


Cecília Meireles, in 'Viagem'