Guardo em mim saudades da cidade que mora no meu coração, lembro a luz sombria que preenche as formas cinzentas das pontes que se formam ao deslizar do Douro, o rio que empresta aos “rabelos” o seu leito... A cada regresso a casa a emoção de uma canção, que suspirando entoa “és cascata S. Joanina”, cascata que se ergue pela Ribeira das “fontainhas”, dos típicos bares, do solar do vinho do Porto, dos festejos do povo, dos brindes ao cair do sol, dos palácios, dos museus, os eléctricos de antes, a Ribeira das “tascas”, das vendedoras de flores, do cheiro da fruta, das castanhas, dos putos da rua, do mítico “cubo” – cenário de beijos perdidos. Sinto a cidade que amo, com as suas frias águas marítimas, a melancolia das sóbrias cores, dos seus mistérios.
Foto: (c) Ricardo Fernando Silva
Faltam-me as noites silenciosas, os traços de um Porto desaparecido, os “hippies” da baixa, os teatros, as galerias, os turistas, a velha Sé das serenatas, a Serra do Pilar, São Bento das chegadas e partidas, a cheia vida de um mercado chamado “Bolhão”, os jardins da Avenida da Liberdade – palco de homenagem à Invicta, os Clérigos, os segredos de um nevoeiro inquieto...Deixei no tempo o Porto da Foz clara, da longa Boavista, das Antas, dos poetas, do impressionismo das telas, dos músicos, do “calão” e do sotaque do norte, das fotografias panorâmicas, da singularidade das “gentes”, das ramificações pelo mundo, da história presente que marcará o futuro da cidade que me está ausente.
Mas marcarei sempre com ela um encontro adiado...
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