quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sonhei contigo...

Sonhei contigo embora nenhum sonho 
possa ter habitantes tu, a quem chamo 
amor, cada ano pudesse trazer 
um pouco mais de convicção a 
esta palavra. É verdade o sonho 
poderá ter feito com que, nesta 
rarefacção de ambos, a tua presença se 


impusesse - como se cada gesto 
do poema te restituisse um corpo 
que sinto ao dizer o teu nome, 
confundindo os teus 
lábios com o rebordo desta chávena 
de café já frio. Então, bebo-o 
de um trago o mesmo se pode fazer 
ao amor, quando entre mim e ti 
se instalou todo este espaço - 
terra, água, nuvens, rios e 
o lago obscuro do tempo 
que o inverno rouba à transparência 
da fontes. É isto, porém, que 
faz com que a solidão não seja mais 
do que um lugar comum saber 
que existes, aí, e estar contigo 
mesmo que só o silêncio me 
responda quando, uma vez mais 
te chamo.


Nuno Júdice

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