Este é um artigo de um jornal local de Ílhavo (Aveiro) que apenas arranha a ponta do icebergue e que insta a quem não pretenda ficar indiferente sobre a realidade deste canil municipal que investigue, testemunhe, denuncie e exija mudanças radicais, porque abundam os relatos de eventos macabros, difundidos por várias pessoas, sobre a forma vil como os animais são tratados assim que têm o azar de transpôr as paredes deste espaço, financiado com o dinheiro de todos os munícipes.
Muitas destas histórias e eventos foram-me contadas na primeira pessoa por um munícipe de Ílhavo que tenta desesperadamente encontrar soluções e apoio de quem se possa interessar para mudar aquilo a que assiste diariamente, de forma impotente... O que me foi relatado deixou-me chocada e de lágrimas nos olhos, absolutamente incrédula...
"Funcionamento do Canil/Gatil de Ílhavo
Animais abandonados em condições precárias
Têm sido algumas as vezes que registamos observações (não lhes queremos chamar nem queixas nem reclamações) sobre o Canil/Gatil de Ílhavo, sobretudo no que concerne às condições em que ali se encontram os amimais abandonados. Desta vez, resolvemos dar nota de alguns registos de uma leitora que já desde 2006 visita aquele equipamento e se mostra «chocada» com as condições de recolha dos animais aí depositados.
«Numa das primeiras vezes que ali fui, senti muita dor ao ver os animais, a tal ponto de ter libertado alguns, inclusivamente, uma gatinha que ainda nem sequer tinha os olhos bem abertos. Mas ainda lá ficaram muitos, nesse dia deviam estar lá à volta de 20 gatos», refere acrescentando que «há momentos que nos deixam sem palavras, como aquele». Reforçando a imagem do choque, a leitora diz-nos que «só quase dois anos depois lá consegui voltar».
Instada sobre a forma e condições como os animais lhe são entregues quando procura “salvar” algum, diz-nos que «vêm todos cheios de pulgas e lombrigas e a maior parte apresenta doenças graves que necessitam de tratamento urgente, situações existem que são já irreversíveis, mas não é necessário preencher nenhum documento, mesmo que alguma doença seja contagiosa».
Devido aos custos de “salvamento” que exigem até despesas com veterinários, «como o Canil/Gatil nem sequer oferece uma simples pipeta para as pulgas ou mesmo um comprimido para as lombrigas, que custa 2 euros, o que me tem valido é a ajuda de uma associação que vai fazendo o que pode».
Sendo procurada muitas vezes por pessoas que nem sequer conhece para resolver alguns problemas, nomeadamente o de esterilização que se faria com uma simples pílula de baixo custo, «tratando-se normalmente de pessoas de poucos rendimentos, eu pago e depois elas reembolsam-me, quando e se podem. Até já houve quem me pagasse em serviço de passar a ferro, por não o poderem fazer de outra forma»...
Quanto à participação da Câmara, «entendo eu e as pessoas com quem falo sobre este assunto, que esta entidade se demite, quase em absoluto, de uma responsabilidade que em parte lhe caberia», disse.
«Para quem, desde 2007, já resolveu cerca de uma centena de casos se animais a necessitarem de ajuda (60 gatas e 30 gatos, sem contar com os animais que tenho em casa), o fardo começa a ser demasiado pesado, e isto porque não encontro por parte da autarquia a sensibilidade mínima para tratar dos animais como deveria», salientando que «feitas bem as contas, penso que se gasta mais em água a lavar as jaulas e na ração, que apesar de ser de muito fraca qualidade sempre custa algum dinheiro, do que a auxiliar aqueles que desejam tratar dos animais», regista. «Feita já uma proposta para
ajudar a autarquia a resolver o problema (acção concertada entre associações de animais e veterinários voluntários), esta nem sequer nos respondeu», afirma desenrolando um rol de situações que, por hoje, nem sequer poderão ser abordadas neste espaço limitado.
Da nossa interlocutora, Maria Madalena, apenas deixamos a mensagem de que «é preciso fazer muito mais pelos animais», alertando para as consciências de quem os abandona e de gente responsável que nada faz (ou faz muito pouco) para ajudar a resolver um grave problema que se alastra – precisamente o do abandono dos animais."
in "O Ilhavense" - Maio 2010.
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