A história do Spark é igual a tantas outras histórias de infortúnio com que, diariamente, todos nós nos cruzamos, uns de forma mais apaixonada do que outros.
O Spark apareceu, há duas semanas e vindo do nada, numa rua de Esgueira, em Aveiro, onde dormiu um par de dias completamente ao relento até que as pessoas se apercebessem que ele tinha sido ali deixado. Foi, então, alimentado em abundância e foi-lhe saciada a sede que já lhe percorria o corpo e era visível nas costelas salientes e fraquejantes de uma figura que, não há muito tempo, era decerto robusta. Encontrou depois, num alpendre de uma das casas dessa rua, um lugar tranquilo e sossegado onde pernoitou várias noites ao abrigo das intempéries que, aqui e ali, se foram abatendo sobre a cidade.
Até que uma noite, há sensivelmente uma semana, uma criança correu à frente do alpendre onde o Spark descansava. A sua excitação natural perante a situação levou-o a perseguir a criança, ladrando ameaçadoramente, mas sem nunca lhe tocar. O pai, cego de fúria perante uma ameaça que nunca se concretizou, perseguiu velozmente o Spark com intenção de o matar, de preferência com brutalidade. Felizmente não conseguiu e o Spark, em pânico e pressentindo que a sua existência estava em risco, correu, correu e correu... Durante 20km. consecutivos, o Spark correu até as pernas não responderem mais e, finalmente e sentindo-se em paz, repousou no primeiro descampado que encontrou.
Na manhã seguinte, uma simpática senhora acolheu-o numa casa onde ele permaneceu durante alguns dias... mas o Spark não se adaptou às pessoas nem ao lugar e, como ele não era de ninguém e a senhora não podia ficar com ele, sendo que apenas ali estava recolhido temporariamente, a decisão passou por abrir-lhe o portão.
No entanto, os vizinhos, na ânsia de se verem livres daquele incómodo transeunte que passou a rondar os seus portões imaculados, rapidamente se despacharam a chamar o canil municipal, que levou o Spark.
O canil não pode ser o último destino do Spark. A morte não pode ser o castigo para o crime de viver. O Spark não é "apenas mais um". É o Spark.... E o Spark não deve morrer sem conhecer o doce sabor de um dono que o acarinhe e que goste dele pelo que ele é.
Serás tu esse dono?
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