domingo, 27 de março de 2011

Um amor que é melhor e não maior...

(...) "o amor que a une a Karenine é melhor do que o amor que existe entre ela e Tomas. Melhor, e não maior." (...)
 
"Parece-lhe é que o casal humano foi criado de tal forma que o amor do homem e da mulher é a priori de uma natureza inferior àquela que pode ter (pelo menos na melhor das suas variantes) o amor entre o homem e o cão, essa estranha coisa da história do homem que o Criador certamente não previu.
É um amor desinteressado: Teresa não quer nada de Karenine.
Nem sequer exige que ele a ame. Nunca se atormentou com as perguntas que torturam os homens e as mulheres: Gostará ele de mim
? Já terá amado alguém mais do que me ama a mim? Amar-me-á mais do que eu o amo? todas estas interrogações que questionam o amor, que medem, o perscrutam, o inspeccionam, não se arriscarão a matá-lo na casca? se somos incapazes de amar, talvez seja por desejarmos ser amados, ou seja, por querermos alguma coisa do outro (o seu amor), em vez de chegarmos junto dele sem reivindicações e não querermos senão a sua simples presença.
  E ainda há mais uma coisa: Teresa aceitou Karenine tal e qual como ele é, não tentou modifica-lo, deu a sua ausência prévia ao seu universo de cão, não quer confiscar-lho, não tem ciúmes das suas tendências secretas. Se o educou, não foi com a intenção de modifica-lo (como um homem quer sempre modificar a sua mulher e a mulher o seu homem), mas simplesmente para lhe ensinar a língua elementar que havia de permitir-lhes compreenderem-se e viverem os dois juntos.
  E também: o seu amor pelo cão é um amor voluntário, ninguém a obrigou a isso." (...)

Milan Kundera, "Insustentável Leveza do Ser".

Sem comentários: