Durante o fim-de-semana, os noticiários trouxeram para dentro de nossas casas a crua realidade da miséria humana: cerca de meio milhão de crianças está em risco de morte iminente devido à seca que assola os países do denominado “Corno de África”.
Sem grande espanto, soubemos ainda que um dos países mais afectados por esta situação de emergência humanitária é a Somália onde, para além da seca – uma das piores das últimas décadas – e da quebra acentuada na produção dos alimentos (com o consequente aumento dos preços), se arrasta, há mais de 20 anos, um conflito armado que parece não ter fim.
Tragédias humanitárias comovem-nos sempre. A dor e o sofrimento dos outros, por muito distantes que estejam e por muito indiferentes que sejamos, não deixam de nos tocar; sobretudo quando os que mais sofrem são os mais indefesos, os mais vulneráveis, os que mais necessitam de protecção e de cuidado – as crianças.
Numa altura em que o mundo dito “desenvolvido” se vê a braços com uma crise económica profunda, com impactos sociais e humanitários, a capacidade de olhar para além do nosso universo, de se comover com a miséria alheia e de tentar fazer alguma coisa que minore o sofrimento dos outros exige um esforço redobrado, um desprendimento material, um altruísmo que ainda acredito não estar em vias de extinção.
Ao ouvir estas notícias, fico sempre de coração apertado e de alma negra e vem-me à memória, inevitavelmente, um excerto do célebre poema de Augusto Gil, que decorei, ironicamente, ainda menina: «…as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor? Porque padecem assim?”»
Possa a Europa colocar os olhos além do Mediterrâneo; possam os líderes dos países do “primeiro mundo” ser solidários; possam os cidadãos de tantos países em paz partilhar um pedaço de pão com os que nada têm.
Retirado de "Os meus refúgios"
Sem comentários:
Enviar um comentário