Esgotado o modelo de liberalização (cega) à escala mundial e com as abissais diferenças de condições de vida entre "uns e outros", entra em cena o apego à religião, facilmente transformado em fanatismo.
Será o século XXI marcado pelas clivagens geradas pelas religiões? Certezas não há, mas arrisco dizer que os principais conflitos serão alimentados pelo fanatismo e pela intolerância. As acções de muitos movimentos radicais, sobretudo islâmicos, giram em torno da religião. Mas é errado culpabilizar apenas um dos lados. A instrumentalização da fé existe no seio das sociedades islâmicas e também existe nas sociedades ditas liberais e democráticas.
A História diz-nos que os Direitos Humanos são um "invento" da Europa do século XVII, na qual o homem passa a estar voltado para si mesmo, para os seus direitos, liberdades e garantias. Valores que continuam a fazer todo o sentido – cada vez mais sentido – no Ocidente. Já no mundo islâmico, pelo contrário, é a pertença a uma comunidade e o sentido da honra a atingirem a primazia sobre o indivíduo. Diferenças que são causadoras de enormes fracturas sociais, políticas e culturais, até agora por sanar.
O respeito mútuo é, lamentavelmente, uma carta fora do baralho. Mas nada disto é culpa da religião islâmica ou do mundo árabe. É, tão-somente, decorrente da existência de grupos radicais e extremistas, que não olham a meios para atingirem os fins. Daí que se torne imperioso fazer essa destrinça, cabendo a todos, de parte a parte, reconhecer a necessidade de respeitar, como iguais, quem pensa, age e vive de maneira diferente. Por muito que custe.
Texto de Maria de Deus Botelho.
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