quinta-feira, 19 de abril de 2012

"Casar ou não casar? Eis a questão"

Estou perante uma charada: será que se realmente casar fosse mais acessível haveria mais casamentos ou estamos perante uma mudança de mentalidades face ao passado?


Em conversa com jovens dos 18 aos 28 anos no âmbito do estudo C-Spotters, falávamos da cada vez mais comum utilização de "vouchers" ou vales de descontos adquiridos em inúmeros sites que proliferam na "world wide web".

Jantares em restaurantes de renome, "after-hours", massagens, cursos de reiki, maquilhagem, astronomia, gastronomia, quem não aproveitou? Um dado curioso, em 50 jovens entrevistados neste estudo, apenas uma era casada. O que me fez pensar.

E se um desses sites especializados em descontos oferecesse um voucher de 30, 50, 70% de desconto em casamentos em 2012… qual seria a reacção? Será que havia uma adesão em massa digna de aparecer na abertura dos jornais da noite ou os números mantinham-se estáveis?

Inúmeras razões podem ser apontadas para a quebra nos casamentos entre os jovens. O dinheiro (mais especificamente, a falta dele), a elevada taxa de divórcios, a diminuição das vantagens fiscais, a falta de vontade, a falta de confiança, a dificuldade em crescer, a descrença no amor.

Mas e se, realmente, casar passasse a ser uma “actividade” acessível aos jovens em 2012. Será que havia mudanças? Será que havia mais “vontade” de casar?

Para os noivos vejo algumas vantagens: mais 11 dias de férias úteis (apenas para quem trabalha e não a recibos verdes, desculpem), uma boa oportunidade para viajar (e todos os locais do mundo podem ser românticos, das Fiji ao Vietname, da Islândia a Nova Iorque), um "stock" renovado de electrodomésticos e molduras, uma boa desculpa para reunir amigos e familiares e oficializar um sentimento de pertença.

Para os convidados outras mais – porque como bons amigos, todos gostam de ajudar à festa. Inclusive dançar ao som do DJ contratado que, para além de pôr música, também enche os balões das crianças, faz atelier de danças latinas e deita o fogo-de-artifício na altura do bolo (porque é a "crise" e o DJ até se safa nas outras tarefas). Já para não falar do gin tónico, das gravatas enroladas à volta da cabeça do noivo e amigos e do cherne servido ao almoço/jantar.

Mesmo assim contínuo sem respostas. Estou perante uma charada, um enigma, um "conundrum". Será que se realmente casar fosse mais acessível haveria mais casamentos ou estamos perante uma mudança de mentalidades, de atitudes, de comportamentos radicais face ao passado? O facto de ser socialmente aceite sair de casa para uma união de facto é a razão principal? Será que com 28 anos só vou ter cinco ou seis casamentos por medo dos divórcios, ou porque simplesmente já não faz sentido a celebração do amor numa cerimónia oficial porque na vivência do dia-a-dia basta? Chamem-me romântica mas eu gosto de casamentos. Mas se me perguntarem a mim se me quero casar… não sei que resposta dar.

Fonte: Artigo publicado no "P3"

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