"Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio... Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro... Está a ver?
A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume incompreensível, a nossa vida... compreende?... a nossa vida apresenta-se ali como algo... como um acontecimento excessivo. [...]
Uma vez fui a um médico. - Doutor, estou louco - disse. - Devo estar louco. - Tem loucos na família? - perguntou o médico. - Alcoólicos, sifilíticos? - Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais.
Estarei louco? O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos. - Não preciso de remédios - disse eu. - Sei histórias tenebrosas acerca da vida. De que me servem barbitúricos?"
(De Herberto Helder, Estilo)
Foto: (c) Helder Mendes
A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume incompreensível, a nossa vida... compreende?... a nossa vida apresenta-se ali como algo... como um acontecimento excessivo. [...]
Uma vez fui a um médico. - Doutor, estou louco - disse. - Devo estar louco. - Tem loucos na família? - perguntou o médico. - Alcoólicos, sifilíticos? - Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais.
Estarei louco? O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos. - Não preciso de remédios - disse eu. - Sei histórias tenebrosas acerca da vida. De que me servem barbitúricos?"
(De Herberto Helder, Estilo)
Foto: (c) Helder Mendes
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