quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Feliz Natal!...


A todos deixo os meus votos de boas festas, aproveitem para serem FELIZES, porque a vida é muito curta...e valiosa demais para ser desperdiçada!...

O Imperialismo americano, no seu melhor...


..."Para promover a sua colecção de roupa para a próxima Primavera, a criadora Donna Karan resolveu fazer uma campanha na cidade de Jacmel, no Sul do Haiti, devastado pelo terramoto de Janeiro de 2010.


Em primeiro plano vê-se a modelo brasileira Adriana Lima, rosto sério e olhar profundo, vestida com um macaco verde que custa cerca de 1500 euros. Mais atrás, dois rapazes haitianos, provavelmente sobreviventes do terramoto, com as suas t-shirts e a olhar o vazio. É esta combinação de luxo e miséria que está a gerar polémica."...

Desenvolvimento da notícia aqui - Jornal Público

Paradigma da crise...


Não podemos querer que as coisas mudem, se fazemos sempre o mesmo. A crise é a maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise supera-se a si mesmo, sem ter sido superado. Quem atribui à crise os seus fracassos e penúrias, violenta o seu próprio talento e respeita mais os problemas do que as soluções. A verdadeira crise é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a dificuldade para encontrar as saídas e as soluções. Sem crises não há desafios, sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crises não há méritos. É na crise que aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo vento é uma carícia. Falar da crise é promovê-la. Não falar da crise é exaltar o conformismo. Em vez disto, trabalhemos arduamente. Acabemos de uma vez por todas com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la.”

Albert Einstein

ULTRAJE a todos que defendem os direitos dos animais.


O FBI resolve definir como "terroristas" todos aqueles que denunciam sob a forma de video, em investigações undercover, todos aqueles que expõe sob a forma de imagens a tortura, os abusos e a crueldade das fazendas industriais e a realidade das "pesquisas científicas".
O ultra-reacionário FBI não me surpreende: afinal seu objetivo foi sempre defender as grandes corporações.
O fato é que, pela própria definição do termo "terrrorista", assim é qualificado quem:
- sistematicamente faz uso do terror como uma forma de coação
1. uso da violência e ameaças como forma de intimidação e coação, especialmente para fins políticos;
- provoca por estes meios um estado de medo ou de submissão
Sendo assim, para ocultar o TERROR que apoia, o FBI parece ter reinventado o sentido do termo, de forma a que os exploradores torturadores __ os verdadeiros TERRORISTAS __ sejam protegidos em suas prerrogativas de TERROR e ASSASSINATO.
Quem é submetido à violência?
Quem é mantido em estado de medo e submissão?
Quem é violentado, cortado, degolado, "experimentado", cegado, torturado, furado, morto, espancado, abusado, aprisionado, ofendido?


FBI Says Activists Who Investigate Factory Farms Can Be Prosecuted as Terrorists
www.greenisthenewred.com

Lido em "Cadeia para quem maltrata animais".




Notícias de última hora vindas de Taiji - Via Paul Watson

"Nenhum dos guardiães do The Cove foi preso durante a blitz realizada no hotel, mas todos os laptops, cameras e e celulares foram confiscados, sem razão alguma. Todos os guardiães do The Cove foram ROUBADOS e destituídos de suas propriedades pessoais e portanto, privados da possibilidade de registar as atrocidades em Taiji. Este é um ato de desespero que tenta silenciar a liberdade de expressão e corresponde a uma tentativa de encobrir a chacina dos golfinhos em Taiji. Agora, mais do que nunca, precisamos de voluntários no local para encarar os assassinos".
Qualquer semelhança com a decisão do FBI de taxar e julgar os autores dos documentários sobre os abusos com animais como "terroristas" NÃO é mera coincidência.
São todos farinha do mesmo velho e fétido saco.
Por estas curiosas inversões éticas, bandidos são os que registram os fatos.
E não aqueles que matam, torturam e exploram.
Estranhamente, 70 anos depois do covarde ataque a Pearl Harbour, hoje o governo americano parece andar de braços dados, amistosamente, com o governo do Japão.
É óbvio que sabemos o porquê: a localização do Japão é considerada "estratégica" pelos EUA. Roosevelt com certeza se revira na tumba, ao ver o que o país se tornou depois da II Guerra Mundial.
Norah


No último dia 16 o ativista do The Cove Erwin Vermeulen foi preso ao tentar registrar a transferência dos golfinhos das redes nos mares de Taiji para o "resort" onde são mantidos até a sua revenda para outros exploradores em sea aquariuns do mundo todo...
Estes são os que os japoneses preferiram não matar e sim vender.



In "Cadeia para quem maltrata animais"

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Enquanto o resto da Europa se preocupa em refinanciar os bancos a Islândia teve a coragem de seguir outro rumo...


Islândia triplicará seu crescimento em 2012 após a prisão de políticos e banqueiros.



Islândia conseguiu acabar com um governo corrupto e parasita. Prendeu os responsáveis pela crise financeira, mandando para a prisão. Começou a redigir uma nova Constituição feita por eles e para eles. E hoje, graças à mobilização, será o país mais próspero de um ocidente submetido a uma tenaz crise de dívida. 

É a cidadania islandesa, cuja revolta em 2008 foi silenciada na Europa por temor a que muitos percebessem. Mas conseguiram, graças à força de toda uma nação, o que começou sendo crise se converteu em oportunidade. Uma oportunidade que os movimentos altermundistas observaram com atenção e o colocaram como modelo realista a seguir.

Consideramos que a história da Islândia é uma das melhores noticias dos tempos atuais. Sobretudo depois de saber que segundo as previsões da Comissão Europeia, este país do norte atlântico, fechará 2011 com um crescimento de 2,1% e que em 2012, este crescimento será de 1,5%, uma cifra que supera o triplo dos países da zona euro. A tendência ao crescimento aumentará inclusive em 2013, quando está previsto que alcance 2,7%. Os analistas asseveram que a economia islandesa segue mostrando sintomas de desequilíbrio. E que a incerteza segue presente nos mercados. Porém, voltou a gerar emprego e a dívida pública foi diminuindo de forma palpável.

Este pequeno país do periférico ártico recusou resgatar os bancos. Os deixou cair e aplicou a justiça sobre aqueles que tinham provocado certos descalabros e desmandes financeiros. Os matizes da história islandesa dos últimos anos são múltiplos. Apesar de transcender parte dos resultados que todo o movimento social conseguiu, pouco foi falado do esforço que este povo realizou. Do limite que alcançaram com a crise e das múltiplas batalhas que ainda estão por se resolver. 

Porém, o que é digno de menção é a história que fala de um povo capaz de começar a escrever seu próprio futuro, sem ficar a mercê do que se decida em despachos distantes da realidade cidadã. E embora continuem existindo buracos para preencher e escuros por iluminar.

A revolta islandesa não causou outras vítimas que os políticos e os homens de finanças costumam divulgar. Não derramou nenhuma gota de sangue. Não houve a tão famosa "Primavera Árabe". Nem sequer teve rastro mediático, pois os meios passaram por cima na ponta dos pés. Mesmo assim, conseguiram seus objetivos de forma limpa e exemplar.

Hoje, seu caso bem pode ser o caminho ilustrativo dos indignados espanhóis, dos movimentos Occupy Wall Street e daqueles que exigirem justiça social e justiça econômica em todo o mundo.

Agora estou mais preparado para enfrentar um dia de notícias tugolesas!

Original em: http://forner179.blogspot.com/2011/12/is...to-en.html

Fonte: http://maestroviejo.wordpress.com/2011/1...-sociales/

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pernoitas em Mim


pernoitas em mim 
e se por acaso te toco a memória... amas 
ou finges morrer 


pressinto o aroma luminoso dos fogos 
escuto o rumor da terra molhada 
a fala queimada das estrelas 


é noite ainda 
o corpo ausente instala-se vagarosamente 
envelheço com a nómada solidão das aves 


já não possuo a brancura oculta das palavras 
e nenhum lume irrompe para beberes 

Al Berto


domingo, 11 de dezembro de 2011

OS MEUS LÁPIS ERAM TRISTES


Eu sei pai. Não devia ter tirado o desenho do outro menino.
Mas era tão bonito!

Os carrinhos que ele desenhou eram de todas as cores e pintou uns balões no céu que pareciam rir-se para mim. E, sabes pai, nas casas dos desenhos dele, tenho a certeza, naquelas casas que ele fazia, as crianças nunca tinham frio nem medo.

Eu quis muitas vezes fazer desenhos como aqueles, juro que tentei pai.
Só que acho que os meus lápis eram tristes e quando riscavam no papel nunca pintavam aquelas cores.
É verdade pai. Eu sei que me deste lápis que, por fora, eram vermelhos, azuis e amarelos mas, por dentro, pai, eram todos cinzentos e, por mais que eu quisesse desenhar um sol, saía sempre uma bola escura e as casas pareciam sempre geladas e feias.

Não foi por mal, pai. Eu queria tanto uma caixa de lápis alegres que riscassem desenhos como aquele.
Mas os meus lápis eram tristes.

Chamava-se Bastien. Tinha três anos. Morreu em França às mãos do pai dentro de uma máquina de lavar roupa por ter tirado um desenho a um colega do jardim de infância.

Lido aqui.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

...foi o sorriso...


Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.




Correr, navegar, morrer naquele sorriso.


Eugénio de Andrade

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Continua a ser este o canil/gatil da câmara municipal de Lisboa...e é este tipo de gente que lida com os animais...


Lisboa – visita ao canil com novos incidentes. Obras continuam paradas.

Apesar de terem ficado com os pneus furados, concretizou-se hoje, 5/12, entre as 11h e as 12h10m, a visita da autora da providência cautelar e de uma voluntária do Grupo de Lisboa ao canil/gatil de Lisboa para visitar os animais aí detidos e verificar o cumprimento das diversas alíneas da sentença da providência cautelar.

Acção idêntica, em que a autora estava acompanhada do advogado, tinha anteriormente sido gorada pelos responsáveis do canil/gatil (ver post de 19 de Outubro). Posteriormente, e em resposta ao e-mail que lhe foi dirigido (ver post de 11 de Novembro), o novo técnico responsável pelo canil/gatil, Dr. Vasco Ribeiro, informou que a autora, na sua qualidade de munícipe, podia realizar a visita quando entendesse. E assim foi feito.

Inicialmente, a Drª Filomena e Drª Ana Machado, que receberam os membros do Grupo, tentaram limitar a visita aos animais detidos no canil 3 por serem os adoptáveis. Perante a cópia do e-mail recebido do Dr. Vasco Ribeiro, que referia o canil na sua integralidade e a recusa liminar de aceitar limitações à visita, iniciou-se a mesma.

 O canil 3 alberga actualmente 28 cães. A maior parte das jaulas só têm um animal,  mesmo que seja de porte mínimo. Muitos cães estavam molhados. Pelo menos 3 casotas não têm tecto. Nenhuma jaula tinha comida, que nos informaram só ser dada por volta das 13h.

No canil 1 (ala fechada) estavam hoje 16 cães, 6 dos quais de porte pequeno. Também não tinham comida.

 No canil 2 encontravam-se, em semi obscuridade,  9 animais, ditos “suspeitos de raiva” e em quarentena. O espaço das celas é mínimo e só têm o lajedo gelado e molhado para se deitarem.

 No gatil estavam 22 gatos (gatos/as adultos e juvenis) e 1 cachorro numa jaula. A maioria estavam juntos (5 jaulas com respectivamente 3/4 animais), mas as jaulas estavam com as divisórias abertas. Tinham comida, água e areia.

No final da vista, foram escritas reclamações no respectivo livro, por incumprimento das alíneas c) e) g) e k) (ver post de 18 de Julho)

Em relação à alínea j) – passeios dos cães – não foi obtido esclarecimento.

Da mesma forma, em relação às alíneas b) d) h), ignora-se se estão a ser cumpridas ou não.

 À saída, um insólito acontecimento esperava as duas visitantes: os 2 pneus do lado direito de uma das viaturas estavam completamente em baixo. Depois de chamado o reboque constatou-se, na oficina, que também os 2 pneus da direita da outra viatura tinham sido perfurados com um objecto cortante. Uma vez que os golpes foram feitos na parte lateral, os pneus ficaram inutilizados.

O acesso viário ao canil é exclusivo e termina na porta do mesmo, onde existe segurança permanente que garantiu que durante aquele intervalo de tempo ninguém do exterior tinha chegado ao canil.

Foi apresentada queixa-crime na PSP contra as pessoas presentes no canil/gatil, excluindo as três que acompanharam as visitantes.

 Conclusão: neste momento estão ao todo no canil/ gatil 54 cães e 22 gatos. Recordamos que antes da providência cautelar só o canil 1 chegava a ter 67 cães.

É preciso conhecer as estatísticas completas do movimento de entradas, saídas e abates no canil/gatil nos últimos meses para interpretar estes dados.


 In Campanha de Esterilização de animais abandonados.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

meu coração é só meu


Ele também aprecia mais o meu raciocínio e o meu talento do que este coração, sem dúvida o meu único orgulho, a fonte de tudo, de toda energia, de toda ventura e de toda desgraça. Ah, o que eu sei, qualquer um pode saber… Mas o meu coração é só meu.




Goethe. Livro “Os sofrimentos do jovem Werther”.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

o máximo prazer da vida...


Entendeu que as palavras de Nietzsche significavam que era preciso escolher sua vida_ele tinha de usufruí-la em vez de ser ‘usufruído’ por ela. Em outras palavras, tinha que amar seu destino. E, acima de tudo, havia a pergunta que Zaratustra sempre fazia_ se gostaríamos de repetir a mesma vida eternamente. Uma idéia curiosa e, quanto mais Julius pensava nela, mais seguro se sentia: a mensagem de Nietzsche para nós era viver de forma a querer a mesma vida sempre.

Irvin D. Yalom. Livro “A cura de Schopenhauer”.


Sopros da vida...

Cada vez que respiramos, afastamos a morte que nos ameaça. (…) No fim, ela vence, pois desde o nascimento é esse  o nosso destino e ela brinca um pouco com a sua presa antes de a comer. Mas continuamos a viver com grande interesse e inquietação durante o máximo tempo possível do  mesmo modo que sopramos uma bola de sabão até esta ficar bastante grande, embora tenhamos a certeza absoluta que vai rebentar.”





Schopenhauer. Livro  “O mundo como vontade e representação”.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O Inverno (árabe) do nosso descontentamento



Apesar do apoio da China e da Rússia (por interesses geopolíticos estratégicos?), um número cada vez maior de países tem condenado a violência exercida pelas forças de segurança e pelo exército do regime ditatorial da Síria contra o seu próprio povo. Os manifestantes, apesar da repressão, não desarmam. A comunidade internacional tem, até ao momento, evitado intervir directamente nesta luta. E o sinal mais forte até acabou por vir mesmo da Liga Árabe, que suspendeu a Síria da condição de membro, até que a violência contra os manifestantes anti-regime termine. Bashar al-Assad está, assim, cada vez mais isolado.

Em comum com as lutas travadas na Tunísia, no Egipto ou na Líbia, o que move o povo sírio é o desejo de liberdade, de colocar um ponto final no reinado mantido por opressores e torcionários. Estima-se que os mortos no conflito armado, que dura desde o início deste ano, ultrapassem em muito os 3.000.

Todavia, a questão síria tem contornos muito complexos, nomeadamente no que respeita ao peso político internacional dos seus – ainda – aliados (como a China e a Rússia), ao poder económico de outros dos seus apoiantes (como o Irão) e aos interesses de alguns dos seus agora opositores (como a Turquia). Por isso, e infelizmente, este conflito interno ameaça ser mais longo e duro do que aqueles que agitaram os seus vizinhos.

Contextualizando, o Oriente e o Norte de África estão, deste o final do ano passado, a braços com revoluções, protestos e manifestações populares. A renúncia de Ben Ali, na Tunísia, e de Hosni Mubarak, no Egipto, galvanizou os civis de diversos países à resistência e à luta, mais ou menos organizada, contra os regimes ditatoriais, a censura e a repressão que sofrem. Teve assim início a “Primavera Árabe”.

Já em Outubro, Muammar Khadafi foi morto a tiro, depois de ter sido capturado e torturado por rebeldes líbios, após largos meses de guerra civil. Nos dois primeiros casos, os “danos colaterais” (destruição das infra-estruturas vitais à economia dos países) foram relativamente baixos, quando comparados com o sucedido na Líbia.

Na Síria, são várias as organizações internacionais que, há meses, exigem que a comunidade internacional tome medidas concretas e eficazes contra o Governo sírio, tentando, deste modo, acabar com o que muitos apelidam de “atrocidades”, atingindo contornos de “crimes contra a Humanidade”. No entanto, e concretamente no que respeita à Organização das Nações Unidas, todas as tentativas de resolução apresentadas ao Conselho de Segurança foram, até ao momento, bloqueadas pela China e pela Rússia, dois fortes aliados do regime sírio.

Mas, enfim, estou convencida de que, seja pela fuga, por renúncia ou por morte, com maior ou menor apoio da comunidade internacional, uma coisa é inevitável: Bashar al-Assad acabará por ser afastado do poder. Até lá, tenho para mim que ainda assistiremos a muitas mais mortes, a muito mais destruição, a muitos mais crimes. A Síria será, no final de tudo isto, um país devastado, aniquilado, massacrado. Depois da “Primavera Árabe”, estamos prestes a assistir ao Inverno (árabe) do nosso descontentamento.

Publicado em p3 (Público)

domingo, 20 de novembro de 2011

"Be the change you want to see in the world"!


..."Não o forças a nada, não lhe bates, não lhe dás ordens, porque sabes que a brandura pode mais do que a força, que a água é mais forte do que a rocha, que o amor é mais forte do que a violência."... 

In Siddhartha, Hermann Hesse.


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

"A lógica dos afectos"


Amamo-nos a nós próprios nos outros; neles procuramos amiúde a mesmidade; a confirmação mais ou menos reconfortante do nosso pequeno mundo
Texto de João Teixeira Lopes 

Que os afectos tenham uma lógica, eis já todo um programa. Que não sejam produto livre do encantado e romanesco encontro amoroso; que resistam ao apelo da liberdade absoluta e da crença individualista na escolha do outro, que a escolha, enfim, seja parcialmente determinada, mediada, condicionada, eis todo um universo oposto ao espírito do tempo medido em ofegantes respirações de telenovela. Pois tudo nos arrasta em sentido contrário: a ausência de leis do amor puro; a sua força invencível para quebrar tradições e barreiras; a costureirinha que conquista o coração de ouro do príncipe de ouro banhado.

Outrora, nos manuais de sociologia, surgia uma curiosa e irritante frase de Peter Berger, que desafiava (e desafia ainda) o impulso heróico-romântico dos estudantes: a flecha de cupido é teleguiada. Por outras palavras, uma acumulação de estudos demonstrava que tendíamos a escolher alguém que nos replicasse no plano dos gostos, dos valores, das preferências ético-culturais. Em suma, e de forma, mais forte: afinidades electivas (título de um romance de Goethe, mas remetendo a uma origem química que designa as afinidades que destroem um composto em proveito de novas combinações – os entes amorosos transformam-se num só: uno, irredutível, coerente até à raiz).

Amamo-nos a nós próprios nos outros; neles procuramos amiúde a mesmidade; a confirmação mais ou menos reconfortante do nosso pequeno mundo. O encontro resulta, entre outros factores, de termos vivido no mesmo banho socializador, de frequentarmos os mesmos locais, cafés, festas, círculos de vizinhança e proximidade (Michel Bouzon). Até a forma como apreciamos eroticamente certas características pessoais e corporais, associando-as, não raras vezes, a traços de personalidade, traduzem (traem…) a moldura dos actos aparentemente mais livres de outras conotações. É certo que estes processos de escolha desviam-se frequentemente de estratégias explícitas, embora, em alguns casos, mais raros, elas se mantenham (“o bom casamento” dos “mercados matrimoniais” fechados ou os colégios da OPUS DEI no Porto, onde, quando elas e eles chegam à puberdade, frequentando colégios exclusivamente masculinos ou femininos, são introduzidos em “clubes” altamente reservados de tempos livres para “escolherem” um potencial companheiro amoroso sob altíssima vigilância).

Ao estudar as escolas secundárias do Porto verifiquei como estas lógicas podiam ser cruéis. Pobre da rapariga de meio burguês que ousasse partilhar afectos com o rapaz do bairro social. Teria a reputação destruída em torno de um processo de violenta ostracização.

Dir-me-ão que hoje é diferente, uma vez que transitamos em círculos sociais mais heterogéneos, que os espaços públicos baralham e misturam, que a mobilidade social enfraquece a semelhança. Ainda assim, um trabalho de pesquisa recente, feito em colaboração com António Firmino da Costa, mostrou-nos como as jovens mulheres, mais escolarizadas, “puxavam” pelos seus cônjuges, em geral com menor formação escolar, para estarem mais aptos a participar em determinadas conversas, círculos, rituais e encontros. Eles sabiam falar de futebol e alta cilindrada, mas elas pensavam, por boas ou más razões, que a frequência académica lhes abriria outros repertórios e lhes forneceria novas ferramentas.

Não irei mais longe. Não tenho a pretensão de que a sociologia tudo possa e deva explicar. E sei como as singularidades e excepções são correlativas da regra. Os trânsfugas de classe, cultura e etnia que o digam. Quem não se lembra, sem emoção, de todas as estórias de amantes de campos opostos, de famílias desavindas, de etnias a ferro e fogo, de ódios sociais e rácicos, que atravessam as pontes, para nelas, tantas vezes, se beijarem e morrerem? Não, a Sociologia felizmente não explica tudo.

Fonte: P3 (Público)

...Contudo não devemos viver em função das expectativas dos outros sobre nós, nem a vida dos outros (por muito atractivas que possam parecer ou nas quais nos identifiquemos bastante...), apenas a nossa própria vida, de acordo com as nossas expectativas e felicidade!...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

"Campanha da Benetton põe políticos aos beijos"


Com o lema “Unhate”, o tema central desta campanha é a união contra o ódio, sendo o slogan: “Neste mundo, o ódio nunca é apaziguado pelo ódio. Só o não odiar pode apaziguar o ódio”. Para isso, a empresa têxtil fez montagens com imagens de líderes políticos e religiosos aos beijos.

Veja aqui as imagens: http://unhate.benetton.com/

Fonte: "i"

Folhas ou estrelas...

..."A maior parte das pessoas, Kamala, são como uma folha que cai, que flutua ao vento, que hesita e que cai no chão. Mas há outros, poucos, que são como estrelas, que seguem um rumo firme, nenhum vento os afecta,  têm dentro de si as suas leis e o seu rumo"...


Siddhartha, Hermann Hesse.



terça-feira, 15 de novembro de 2011

O que Distingue um Amigo Verdadeiro

Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas. 

Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta. 

Em Portugal, a amizade leva-se a sério e pratica-se bem. É uma coisa à qual se dedica tempo, nervosismo, exaltação. A amizade é vista, e é verdade, como o único sentimento indispensável. No entanto, existe uma mentalidade Speedy González, toda «Hey gringo, my friend», que vê em cada ser humano um «amigo». Todos conhecemos o género — é o «gajo porreiro», que se «dá bem com toda a gente». E o «amigalhaço». E tem, naturalmente, dezenas de amigos e de amigas, centenas de amiguinhos, camaradas, compinchas, cúmplices, correligionários, colegas e outras coisas começadas por c. 
Os amigalhaços são mais detestáveis que os piores inimigos. Os nossos inimigos, ao menos, não nos traem. Odeiam-nos lealmente. Mas um amigalhaço, que é amigo de muitos pares de inimigos e passa o tempo a tentar conciliar posições e personalidades irreconciliáveis, é sempre um traidor. Para mais, pífio e arrependido. Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. E fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana.» Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Fragmento 36

São as pessoas que habitualmente me cercam, são as almas que, desconhecendo-me, todos os dias me conhecem com o convívio e a fala, que me põem na garganta do espírito o nó salivar do desgosto físico. É a sordidez monótona da sua vida, paralela à exterioridade da minha, é a sua consciência íntima de serem meus semelhantes, que me veste o traje de forçado, me dá a cela de penitenciário, me faz apócrifo e mendigo.



O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa. Bernardo Soares.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Em tempos pré-históricos usar peles era uma necessidade, hoje é ridículo!


Se tiverem coragem vejam o que está por trás dos casacos, malas e tantos outros objectos de peles e pêlos de animais que proliferam pelas montras de vestuário e acessorios deste Inverno...Do horror que ajudam a sustentar à custa da vossa vaidade, adquirindo estes objectos! 
Usem peles e pêlos sintéticos... Não sejam cúmplices do sofrimento dos animais...


A injustificabilidade do uso de peles de animais é ainda maior quando se tem em consideração o facto de existirem imensas alternativas sintéticas – e, portanto, não-cruéis – ao uso de peles naturais. Os materiais sintéticos conseguem, de resto, ser muito mais bonitos, elegantes, confortáveis e quentes do que as peles naturais, razão pela qual ainda mais injustificável se torna o uso destas. Não participe neste massacre. Não use peles nem pêlo de animais. Prefira as alternativas sintéticas. Eles agradecem.




"As primeiras-damas Carli Bruni e Michelle Obama, têm mais em comum, do que serem mulheres de homens que governam um país.
Além de elegantes, Carla e Michelle, são contra o uso de peles de animais na moda.



Tanto é que Carla escreveu uma carta ao PETA, dizendo que não usa e não possui em seu guarda roupa nenhuma peça do tipo.

Já a secretária de Michelle também garantiu que a primeira dama americana é cem por cento "pele-free"."...




Vejam e depois decidam em consciência:

http://www.holocaustoanimal.org/vestuario.htm
http://respectforanimals.co.uk/
http://www.peta.org/issues/animals-used-for-clothing/animals-used-for-fur.aspx


domingo, 6 de novembro de 2011

Pobres dos pombos das nossas cidades...


Alguns pombos... coitados!
Vi-os na Rua Augusta. Plumagem baça, rara, peladas no dorso e patinhas aleijadas. Borbotos de carne esponjosa a nascerem sem precisão... como tumores malignos salientes e encavalitados. Depenicam migalhas aos pés das mesas de esplanada. Enchem-se de gordura, açúcar e poluição. Coitados dos pombos de Lisboa!
Agitam os jornais para os espantarem, os homens que engolem o café e as pragas que lhes gostariam de dizer. Raio dos pombos! Coitados dos pombos, digo eu... que os  pombos da minha memória, não são assim! Os meus pombos, têm pombal caiado de branco e telha lusa que os abrigam. Comem o bago saído da terra, dourado ao sol e estendido na eira. Não os enxotam. Os homens da minha memória, dão-lhes de comer com carinho e, os arrulhos que soltam, são melodias em todas as tardes. Alguns, mensageiros pombos-correios... outros, apenas voam saudáveis e livres.

In "Diário de Lisboa"

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sobre a vida...


Alguém que me é muito especial, dizia:

..."estava a ler o teu "post" e pensava: o que é, afinal, isso de "viver" ?

eu tenho 32 anos, prestes a fazer 33. Já vivi em 7 sítios diferentes, já fui operado, já vivenciei um tremor de terra, já fiz amigos nos sítios mais inauditos, já vivi uma adolescência que considero feliz, em que nunca me faltou nada, já estudei na faculdade, já apanhei borracheiras transcendentais, enquanto fazia esforços patéticos para curtir com um punhado de miúdas que remotamente se interessavam por mim, já arrisquei tudo a ir atrás de mulheres que nunca vi, já traí, já fui traído várias vezes, já me arrebatei todo por amor, já senti a minha vida em risco, já conheci alguns países do mundo, já experimentei algumas das sensações de adrenalina mais intensas que devem existir, já amei, já senti a paz e tranquilidade da harmonia espiritual, já sonhei, já andei com os pés na terra, já tive ilusões e desilusões e já fiz tanta coisa que pensava nunca fazer sendo que ainda tenho, sem dúvida alguma, muito por fazer....

 se podia ter vivido mais? Talvez pudesse.... Mas não passo cada minuto do dia a angustiar-me por tudo aquilo que não fiz, isso é certo. E quando penso, em profundidade, como te fiz agora mesmo, não considero que, até agora, tenha apenas passado pela vida... Isso sim, e na medida do possível, abri os braços em alturas de mais coragem e deixei que ela passasse por mim.....  
 Já te disse isto mais do que uma vez e é o que eu penso: a vida não é um sprint, é uma maratona... " ...

Fiquei com isto a pensar que devo chegar à mesma conclusão; se sobre a vida reflectir... Que a vida acontece mesmo à nossa frente todos os dias, ainda que achemos que não damos por ela...

Um destes dias, amigo, que encontre as palavras,respondo-te...

A vida acontece agora...


É melhor atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam, mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros. Esses pobres de espírito, no final da sua jornada na Terra não agradecem a Deus por terem vivido, mas desculpam-se perante Ele, por terem apenas passado pela vida.

Bob Marley

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ainda que...


Ainda que mal pergunte, 
ainda que mal respondas; 
ainda que mal te entenda, 
ainda que mal repitas; 
ainda que mal insista, 
ainda que mal desculpes; 
ainda que mal me exprima, 
ainda que mal me julgues; 
ainda que mal me mostre, 
ainda que mal me vejas; 
ainda que mal te encare, 
ainda que mal te furtes; 
ainda que mal te siga, 
ainda que mal te voltes; 
ainda que mal te ame, 
ainda que mal o saibas; 
ainda que mal te agarre, 
ainda que mal te mates; 
ainda assim te pergunto 
e me queimando em teu seio, 
me salvo e me dano: amor. 


Carlos Drummond de Andrade

domingo, 30 de outubro de 2011

Eu não.


Digam que foi mentira, que não sou ninguém,
que atravesso apenas ruas da cidade abandonada
fechada como boca onde não encontro nada:
não encontro respostas para tudo o que pergunto nem
na verdade pergunto coisas por aí além
Eu não vivi ali em tempo algum.


Ruy Belo











segunda-feira, 24 de outubro de 2011

...E por vezes custa muito...

A violência à escala global a que assistimos diariamente é, nem mais, nem menos, o fruto do verdadeiro choque de civilizações gravado em alto-relevo nas páginas da História. É o resultado da já velha "guerra" entre o Ocidente liberal e o Islão radical. Para estes últimos, o Ocidente encarna o Diabo. Séculos a fio sob domínio colonial deixaram marcas profundas em inúmeros países da região, transformada, nas décadas mais recentes, em palco de renhidas disputas pelo controlo do mercado do petróleo, que o Ocidente quer abocanhar. E é sempre mais fácil dividir para reinar (no caso, fomentar guerras) do que respeitar as diferenças sociais, políticas e culturais. Obama disse, e bem, que os conflitos só se resolvem quando "uns se colocarem no lugar dos outros" para se respeitarem.

Esgotado o modelo de liberalização (cega) à escala mundial e com as abissais diferenças de condições de vida entre "uns e outros", entra em cena o apego à religião, facilmente transformado em fanatismo.

Será o século XXI marcado pelas clivagens geradas pelas religiões? Certezas não há, mas arrisco dizer que os principais conflitos serão alimentados pelo fanatismo e pela intolerância. As acções de muitos movimentos radicais, sobretudo islâmicos, giram em torno da religião. Mas é errado culpabilizar apenas um dos lados. A instrumentalização da fé existe no seio das sociedades islâmicas e também existe nas sociedades ditas liberais e democráticas.

A História diz-nos que os Direitos Humanos são um "invento" da Europa do século XVII, na qual o homem passa a estar voltado para si mesmo, para os seus direitos, liberdades e garantias. Valores que continuam a fazer todo o sentido – cada vez mais sentido – no Ocidente. Já no mundo islâmico, pelo contrário, é a pertença a uma comunidade e o sentido da honra a atingirem a primazia sobre o indivíduo. Diferenças que são causadoras de enormes fracturas sociais, políticas e culturais, até agora por sanar.

O respeito mútuo é, lamentavelmente, uma carta fora do baralho. Mas nada disto é culpa da religião islâmica ou do mundo árabe. É, tão-somente, decorrente da existência de grupos radicais e extremistas, que não olham a meios para atingirem os fins. Daí que se torne imperioso fazer essa destrinça, cabendo a todos, de parte a parte, reconhecer a necessidade de respeitar, como iguais, quem pensa, age e vive de maneira diferente. Por muito que custe.

Texto de Maria de Deus Botelho.

..."Gosto de ter tempo.Gosto de dispor do meu tempo."...

Subscrevo quase na totalidade...

"Nunca tive macs, nem ipods, nem o hábito de ouvir música no itunes ou em qualquer dessas plataformas online que nos ajudam a chegar a milhares de bandas a um ritmo, para mim, demasiado alucinante. Não tenho ipad e duvido que venha a ter. Continuo com o mesmo interesse por tecnologia que tenho pela observação de aves, pelo debate répública/monarquia ou pelas eleições da Madeira. Tenho um computador que faz o básico para eu trabalhar. Continuo a comprar cd's e vinis e a ouvi-los nos aparelhos cá de casa. Gosto de ler jornais e revistas em papel, mas agora que penso nisso, são cada vez menos os que leio. Talvez por haver às centenas. Era incapaz de ler um livro num kindle ou noutro aparelho tecnológico qualquer desses que alguns juram a pés juntos "mudam as nossas vidas". Gosto de ter tempo. Gosto de dispor do meu tempo. De o usar à minha maneira. Sem ser refém de nada nem de ninguém." (...)

Bernardo Pires de Lima

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

..."A cobiça envenenou a alma dos homens... "...


(...) "Aos que me podem ouvir eu digo: `Não desespereis!' A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia, da amargura dos homens que temem o avanço humano..."(...)


         Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.


            Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.


            O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.  A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.


            A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.


            Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!


            Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, ms dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.


            É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!


            Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!

O último discurso,do filme "O Grande Ditador". -  Charles Chaplin