quinta-feira, 31 de março de 2011

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Carlos Drummond de Andrade

movies and words...


Alex: Love makes you do crazy things, insane things. Things in a million years you'd never see yourself do. But there you are doing them... can't help it.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Boas notícias, vacina contra a Leishmaniose a ser lançada em Portugal...

"A agência Euronext revelou que Portugal vai ser o primeiro país a receber a recém-desenvolvida vacina contra a Leishmaniose canina, que deverá ser lançada em finais de Junho.
A escolha por Portugal justifica-se, alegadamente, por ser o país com maior incidência da doença em cães. A vacina, patenteada com o nome CaniLeish, deverá posteriormente ser distribuída por Espanha, França, Grécia e Itália. Os direitos pelo registo da vacina foram atribuídos à Virbac, depois dos laboratórios da sua subsidiária Bio Véto Test – BVT a terem criado."

Fonte: Virbac

terça-feira, 29 de março de 2011

Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem para te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim para te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos para te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca

domingo, 27 de março de 2011

Um amor que é melhor e não maior...

(...) "o amor que a une a Karenine é melhor do que o amor que existe entre ela e Tomas. Melhor, e não maior." (...)
 
"Parece-lhe é que o casal humano foi criado de tal forma que o amor do homem e da mulher é a priori de uma natureza inferior àquela que pode ter (pelo menos na melhor das suas variantes) o amor entre o homem e o cão, essa estranha coisa da história do homem que o Criador certamente não previu.
É um amor desinteressado: Teresa não quer nada de Karenine.
Nem sequer exige que ele a ame. Nunca se atormentou com as perguntas que torturam os homens e as mulheres: Gostará ele de mim
? Já terá amado alguém mais do que me ama a mim? Amar-me-á mais do que eu o amo? todas estas interrogações que questionam o amor, que medem, o perscrutam, o inspeccionam, não se arriscarão a matá-lo na casca? se somos incapazes de amar, talvez seja por desejarmos ser amados, ou seja, por querermos alguma coisa do outro (o seu amor), em vez de chegarmos junto dele sem reivindicações e não querermos senão a sua simples presença.
  E ainda há mais uma coisa: Teresa aceitou Karenine tal e qual como ele é, não tentou modifica-lo, deu a sua ausência prévia ao seu universo de cão, não quer confiscar-lho, não tem ciúmes das suas tendências secretas. Se o educou, não foi com a intenção de modifica-lo (como um homem quer sempre modificar a sua mulher e a mulher o seu homem), mas simplesmente para lhe ensinar a língua elementar que havia de permitir-lhes compreenderem-se e viverem os dois juntos.
  E também: o seu amor pelo cão é um amor voluntário, ninguém a obrigou a isso." (...)

Milan Kundera, "Insustentável Leveza do Ser".

sábado, 26 de março de 2011

Os cantos que escondo...

Sabes, tu eras a última pessoa da qual eu queria estar distante. Mas eu sou distante das pessoas. Por mais esforço que faça e voltas que dê, há sempre um canto dentro de mim que eu não consigo partilhar por medo, vergonha ou simplesmente porque "não vale a pena". Há sempre um canto dentro de mim que ainda não aprendeu ser a dois. E tu és o primeiro a reparar. E isso mata-me por dentro porque não te quero fazer sofrer. Eu não quero. Mas, invariavelmente, acabo por fazê-lo. E, se ainda não o fiz verdadeiramente até agora, sei que o vou fazer, mais cedo ou mais tarde. Eu sei disso. E isso não significa que eu te ame menos, apenas significa que estavas errado. Que eu não sou perfeita. Sou humana. E, invariavelmente, erro. Desculpa-me por isso.

Por June

terça-feira, 22 de março de 2011

apenas porque gosto...apenas porque sim...


chilrear dos pássaros



estas ruínas



livraria "Lelo"



tatto's




pisar folhas secas das árvores no Outono





perder-me noite dentro em tertúlias com amigos



ouvir o som das folhas das árvores ao som da brisa de Verão



"Blue Valentine"



livros, muitos...




fotografia com o coração e pouca razão



chocolate e vinho (perfect match)




sonhar, porque é de graça e faz bem à alma.


segunda-feira, 21 de março de 2011

Porque hoje é o dia mundial da poesia e começa a Primavera...

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro


domingo, 20 de março de 2011

movies and words...


Wow. After I jumped, it ocurred to me.
Life is perfect. Life is the best, full of magic,
beauty, opportunity, and television.
And surprises...lot's of surprises, yeah.
And then there's the best stuff, of course.
Better than anything anyone ever made up,
'cause it's real.


quinta-feira, 17 de março de 2011

Sim, a loucura atraí-me...

Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo? Já.
E tomar a forma dos objectos? Sim.
E acender relâmpagos no pensamento? Também.
E às vezes parecer ser o fim? Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima? Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor que nos faz seguir viagem sem paragem nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins na aula de descer abismos e fazer dos abismos descidas de recreio e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível atrevidamente e ganhar-lhe, e ganhar-lhe a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira para tudo?
Tu só, loucura, és capaz de transformar o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar a quem tas vier buscar.

Almada Negreiros

quarta-feira, 16 de março de 2011

Esta é a história do Spark.


A história do Spark é igual a tantas outras histórias de infortúnio com que, diariamente, todos nós nos cruzamos, uns de forma mais apaixonada do que outros.

O Spark apareceu, há duas semanas e vindo do nada, numa rua de Esgueira, em Aveiro, onde dormiu um par de dias completamente ao relento até que as pessoas se apercebessem que ele tinha sido ali deixado. Foi, então, alimentado em abundância e foi-lhe saciada a sede que já lhe percorria o corpo e era visível nas costelas salientes e fraquejantes de uma figura que, não há muito tempo, era decerto robusta. Encontrou depois, num alpendre de uma das casas dessa rua, um lugar tranquilo e sossegado onde pernoitou várias noites ao abrigo das intempéries que, aqui e ali, se foram abatendo sobre a cidade.

Até que uma noite, há sensivelmente uma semana, uma criança correu à frente do alpendre onde o Spark descansava. A sua excitação natural perante a situação levou-o a perseguir a criança, ladrando ameaçadoramente, mas sem nunca lhe tocar. O pai, cego de fúria perante uma ameaça que nunca se concretizou, perseguiu velozmente o Spark com intenção de o matar, de preferência com brutalidade. Felizmente não conseguiu e o Spark, em pânico e pressentindo que a sua existência estava em risco, correu, correu e correu... Durante 20km. consecutivos, o Spark correu até as pernas não responderem mais e, finalmente e sentindo-se em paz, repousou no primeiro descampado que encontrou.

Na manhã seguinte, uma simpática senhora acolheu-o numa casa onde ele permaneceu durante alguns dias... mas o Spark não se adaptou às pessoas nem ao lugar e, como ele não era de ninguém e a senhora não podia ficar com ele, sendo que apenas ali estava recolhido temporariamente, a decisão passou por abrir-lhe o portão.

No entanto, os vizinhos, na ânsia de se verem livres daquele incómodo transeunte que passou a rondar os seus portões imaculados, rapidamente se despacharam a chamar o canil municipal, que levou o Spark.


O canil não pode ser o último destino do Spark. A morte não pode ser o castigo para o crime de viver. O Spark não é "apenas mais um". É o Spark.... E o Spark não deve morrer sem conhecer o doce sabor de um dono que o acarinhe e que goste dele pelo que ele é.

Serás tu esse dono?

Para mais informações contactar o Canil Municipal de Aveiro.



sexta-feira, 11 de março de 2011

Se eu tivesse coragem...


Se eu tivesse coragem, andava num avião a jacto e marcava uma grande viagem. Se tivesse coragem enchia uma parede de casa cheia de pétalas de rosas vermelhas. Tinha muitos cães, muitos gatos e viveria na praia. Se eu tivesse coragem fazia gazeta ao emprego, ficava num canto em sossego. Ou então, gastava um ordenado numa única compra, mas nada fútil. Se eu tivesse ainda mais coragem, começava outra vez do nada, voltava a estudar e comprava porta lápis novo e tudo. Teria um filho, comeria um bolo de chocolate de uma vez só...Se eu tivesse coragem dizia ainda, mais vezes o que penso, escreveria um poema, pegava num microfone e começava uma revolução, mesmo que só dentro de mim.... Aprenderia a fazer surf, andar de mota e tocar viola. Mas eu não preciso de coragem. Basta-me um impulso, só não sei bem, por onde começar...


quarta-feira, 9 de março de 2011

Companheiros de viagem.

(...) Os livros não servem para sermos mais "cultos", mais "informados", mais "preparados". Servem para estarem presentes quando tudo o resto está ausente: eles são o refúgio do mundo quando o mundo persiste em avançar do avesso. Eles são o porto que nos aguarda quando a embarcação está perdida ou destruída. Eles são o primeiro e o último brinde aos amigos que não tivemos, aos sonhos que não vieram. E, como na canção francesa, a todas as mulheres que não nos amaram. A vida nem sempre é justa (...).

João Pereira Coutinho, Revista Única, 12.07.2008.

terça-feira, 8 de março de 2011

Tu como sempre...


Trazias contigo como sempre
alvoroço e início...

Sophia de Mello Breyner Andresen

E assim o Homem se fez soberano...

"Logo no começo do Génesis, está escrito que Deus criou o homem para que ele reinasse sobre os pássaros, os peixes e o gado.
É claro que o Génesis é obra do homem e não do cavalo. Ninguém pode ter a certeza absoluta que Deus realmente queria que o homem reinasse sobre todas as outras criaturas. O mais provável  é que o homem tenha inventado Deus para santificar o seu poder sobre a vaca e o cavalo, poder esse que ele usurpara. Sim, porque, na verdade, o direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa que humanidade, no seu conjunto, nunca contestou, mesmo durante as guerras mais sangrentas.
 É um direito que só nos parece natural porque quem está no topo da hierarquia somos nós. Bastava que entrasse mais outro parceiro no jogo, por exemplo um visitante vindo de outro planeta cujo Deus tivesse dito «Tu reinarás sobre as criaturas de todas as outras estrelas», para que todas a evidência do Génesis ficasse logo posta em questão. Talvez depois de um marciano o ter atrelado a uma charrua ou enquanto estivesse a assar no espeto de um habitante da Via Láctea, o homem se lembrasse das costeletas de vitela que costumava comer e apresentasse (tarde de mais) as suas desculpas à vaca." (...)

Milan Kundera, "Insustentável Leveza do Ser".


segunda-feira, 7 de março de 2011

Estados de alma...

Noite fria, tão fria que não me sinto...

mais fria que todas as outras,

vazia, negra, triste e fria.

Quase a nevar; não lá fora, mas dentro de mim...

domingo, 6 de março de 2011

Quando me amei de verdade.

Quando me amei de verdade,
compreendi que em qualquer circunstância,
eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exacto.
E, então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia,
meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que
estou indo contra as minhas verdades.
Hoje sei que isso é... Autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a
minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é
ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.

Quando me amei de verdade, comecei a ver-me livre de tudo
que não fosse saudável ... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo.
De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projectos megalómanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo
o passado e de me preocupar com o Futuro. Agora, mantenho-me no
presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.

Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente
me pode atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco ao serviço do meu coração, ela torna-se uma grande e valiosa aliada. 
Tudo isso é.... SABER VIVER ! ! ! ! ! ! ! ! ! !

(Charles Chaplin)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Fragmentos...

A minha matéria é feita de sonhos interrompidos, peças fragmentadas, angústias profundas mas de pouca razão, pessoas no coração e actos por impulso. Estranha sensação sentir falta de gente e lugares que não conheci, experiências que não vivi e momentos que já esqueci. Passei por noites acordada, perdi gente que queria e cumpri palavras que não prometi. Desisti por vezes sem tentar, pensei em fugir para não enfrentar, sorrir para não chorar e escrever para me reconciliar... 


(Adaptado B.P.T)

quinta-feira, 3 de março de 2011

O Presente sem passado nem futuro.

Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. Conhecendo o que tem sido a minha vida até hoje - tantas vezes e em tanto o contrário do que eu a desejara -, que posso presumir da minha vida de amanhã senão que será o que não presumo, o que não quero, o que me acontece de fora, até através da minha vontade? Nem tenho nada no meu passado que relembre com o desejo inútil de o repetir. Nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim.
O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.

 Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'