quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Revolução do Guarda Chuva

Em Hong Kong, faz-se a "revolução dos Guarda Chuva" pela liberdade, democracia e dignidade, por cá faz-se a "não revolução" do deixa andar, do conformismo pela perda de tudo...e em silêncio...sem sequer se afirmar uma posição, uma atitude...uma vontade...um querer maior...triste país, o nosso...povo que esmoreceu, perdeu a coragem dos relevantes antepassados...se D. Afonso Henriques ressuscitasse...suicidava-se de desgosto!



segunda-feira, 27 de outubro de 2014

e tudo, no amor é música, acústica da alma que quer ser devorada

Algum dia eu haveria de entrar na normalidade dos que te amam. Amo-te. E dói escrevê-lo (que é pior, meu amor, do que dizê-lo). Amo-te absoluta, impossível e fatalmente. E ouço, adolescente, uma música adolescente, para me lembrar de ti, porque lembrar-me de ti é lembrar-me que não consigo esquecer-te. E ouço música porque ouvimos música quando amamos, e tudo, no amor é música, acústica da alma que quer ser devorada, e, neste caso, dor (tão deliciosamente insuportável) de amar sem sequência nem expectativa de contrapartida, amar unicamente o puro objecto que desgraçadamente amamos. Isto é uma carta de amor, e é possivelmente ridícula prova maior de que é, realmente, uma carta de amor), ou porque perdi o hábito de as escrever, ou porque nunca tive a coragem de as enviar.

(...)

E não, esta carta não pode ter sido escrita por mim. És tu – em mim – que me faz escrever o que eu não escrevo. E isso é – de novo – o melhor de mim.)

António Mega Ferreira

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Regresso ao teu sorriso...

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

"O amor nos tempos de ébola"

De que o mundo é um hospício não tenho a menor dúvida...
Excelente texto!


(...)Mas não é por não ser humano que Excalibur não poderia compreender. Pelo contrário, Excalibur não poderia compreender porque era, como qualquer cão, demasiado humano para compreender tanta desumanidade: Excalibur não poderia compreender porque é incompreensível, como é incompreensível que ao cabo de tantos anos a aprender truques com os homens, os cães só tenham retido a amizade, a fidelidade e a ternura.(...)


(...)Poderíamos ter explicado tudo isto ao cão Excalibur? Como explicar-lhe que ao final de tantos milénios a evoluir juntos, os humanos continuem, apesar de todas as filosofias, tecnologias e ideologias do mundo, tão inexplicavelmente desumanos?(...)

Texto na integra em   Manifesto 74