terça-feira, 26 de abril de 2011

Lost in Translation...

Sempre que vou a um sítio contra a minha vontade,arrependo-me. Normalmente quando digo a primeira vez: "Não quero!" , é porque não quero mesmo.
Festas ruidosas, as pessoas querem falar comigo e nem sempre me apetece. Porque é que hei-de ir? As conversas trocam-se, uma pessoa ao fundo da sala suga-me a alma com o olhar enquanto mais duas me enchem de futilidades. O tamanho do sapato, o preço da renda, a comida do cão, o batom vermelho que sujou a camisa da H&M,o trânsito na A3, a nova relação da vizinha divorciada e a má ou boa vida sexual. A certa altura, acho que já não oiço ninguém. A minha cabeça abana automaticamente dizendo que sim e o meu braço repousa no balcão segurando num cigarro. A minha boca prefere fuma-lo do que motivar mais conversas dessas.
Os tipos do costume elogiam, querem uma queca, querem uma relação,sei lá.Aposto mais na primeira.
Sabem que nunca acontece nada,mas insistem em pendurar-se ao meu lado com aquele cheiro intenso a perfume,conversa que não me convencia nem que eu estivesse a 7 metros abaixo da terra a suplicar por oxigénio.
Digo que vou à casa de banho sem ter sequer vontade de urinar. Pouso o copo quase só com gelo em cima do lavatório, abro a mala e retoco a maquilhagem sem saber bem para quê. Para estar bonita? Para agradar alguém? Para ocupar mais uns minutos sem as aturar? Porque sim? Lavo as mãos e volto a sair.
Todos dançam à minha volta com uma necessidade extrema de serem visto,elogiados.
Amanhã todos vão ter fotografias no facebook e vão dizer exageradamente que foi a melhor noite das suas vidas,que são tão felizes, que tudo é perfeito e estão cheios de amigos.
Fico contente quando mesmo no meio da futilidade encontro um amigo e me diz: “Di,há tanto tempo!Está tudo bem contigo?” respondo sempre que sim. Tudo óptimo.A minha vida tem pouco interesse,pelo menos eu quero que tenha na vida dos outros. Dou-lhe dois beijos e talvez um abraço,sorrio e continuo a minha vida.Entretanto mais alguém me reconhece e vem falar comigo,paga um copo,faz perguntas,o normal.Pedem-me favores, número de telefone, perguntam-me se tenho um cigarro,se quero ir a tal lado a seguir,entre Smiths e Joy Division, entre cerveja e um sorriso.
Mais umas horas passam, o meu corpo permanece iluminado pelas cores das luzes que se destacam no meio da escuridão daquele bar. Todos usam óculos em massa pretos,todas querem camisas de ganga e leggins floridos, saltos altos, batons vermelhos e unhas coloridas,azul,verde,rosa,tons pastel,lenços tigrados e todas querem ser diferentes usando coisas iguais.Não é estranho fazermos isto?
Bem,de qualquer forma penso para mim o quanto é triste alguém ter de se anular para pertencer a alguma coisa nesta bagunça a que chamam de mundo. Eu também gosto de óculos em massa pretos,também uso raybans e essas tretas. A questão é que eu não preciso de me justificar permanentemente, nem explicar todos os dias o que sou.Eu sou e ponto.Acabou a conversa.Sei lá se sou interessante assim,se calhar ninguém me acha piada nenhuma,se calhar destaco-me,se calhar não,mas não consigo anular o que sou.
Não quero sair, prefiro ficar a ouvir jazz e a comer brownies. (...)


Por "Di", mas podia ser meu...

2 comentários:

Di Almeida disse...

:) podia ser teu e pelos vistos também é sentido por ti.
Fico "contente" por teres gostado.Identificado não sei bem se gosto...Um beijo CF *

C. F. disse...

Não gostaste que tenha identificado?
Gostei muito sim, de tal forma, que o senti como meu.... Obrigada pela tua generosidade!