terça-feira, 4 de dezembro de 2012

...reflexo do que ainda é a sociedade portuguesa (na sua maioria)...vive na pré-história e recusa-se a evoluir em termos de mentalidade e cultura! VERGONHA!...

Unidos na barbárie

Uma votação no parlamento europeu deu, mais uma vez, conta do desfasamento que existe entre os nossos deputados e os seus eleitores. 

Na verdade, pouco se sabe do comportamento destes políticos que pretensamente nos representam em Bruxelas. Mas, quando se descobre o sentido do seu voto em determinadas matérias, fica claro que não merecem confiança. Explico.

Algures na Dinastia Ming, um cozinheiro obtuso decidiu inventar a sopa de barbatana de tubarão. Dados a superstições, os chineses acham que esta mistela lhes dá potência sexual, coisa de que se devem sentir muito necessitados. A raridade do ingrediente fez com que, durante muito tempo, a sopa fosse um acepipe só acessível aos ricos e poderosos. O enriquecimento da China levou, contudo, a um consumo desenfreado, tendo por consequência a quase extinção dos tubarões a oriente. Daí que se tenha começado a pescar esta espécie também nos mares europeus.

A técnica de pesca é atroz. Os tubarões são capturados, cortam-lhes as barbatanas e, ainda vivos, são de novos deitados para a água onde morrem lenta e cruelmente, já que ficam sem capacidade de locomoção.

É neste contexto que o parlamento europeu votou uma lei que proíbe o corte de barbatanas em alto mar. A lei, moderada, nem sequer é contra a pesca destes animais mas obriga a que os mesmos sejam "desmanchados" em terra. Foi aprovada com 566 votos a favor e 47 contra. Ou seja, 47 deputados acham legítima uma tal selvajaria. E quem são eles? Na sua maioria, espanhóis e portugueses. E, nestes últimos, quem votou a favor desta prática vergonhosa? Espante-se. Todos os deputados portugueses, de todos os partidos. Menos um, honra lhe seja feita, o deputado independente Rui Tavares. Sim, Maria de Graça Carvalho, Carlos Coelho, Paulo Rangel, Mário David (do PSD), Capoula Santos, Correia de Campos, Edite Estrela, Ana Gomes, Vital Moreira (do PS), Diogo Feio (do PP), Marisa Matias, Alda Sousa (do Bloco), João Ferreira, Inês Zuber (do PC), votaram em uníssono do lado errado da história e da civilização. Mostraram um raro momento de unidade das várias forças partidárias portuguesas. Só é pena que o tenha sido em defesa da barbárie.

O argumento deste bando de trogloditas é simples. Prende-se com a razão económica. Os pescadores portugueses, coitados, com a nova lei não conseguem carregar tanto tubarão nos seus barcos, quantas barbatanas que é só o que lhes interessa. A defesa de um modo de pesca inqualificável sobrepõe-se a qualquer sentido de ética e decência humana. Estes deputados portugueses deram assim, à Europa e ao mundo, sinal de que somos um povo primitivo, atrasado e insensível a questões fundamentais do nosso tempo. Representam o quê? A mim não certamente. E, estou certo, nem a muitos outros portugueses que já vivem no século 21, alguns dos quais votaram neles. 

Temos assim que a mesma razão económica que conduziu à desgraça social que se abateu sobre a sociedade portuguesa e que tantos deles dizem combater pouco tem a ver com reais diferenças de civilização. No fundo, estão todos de acordo no mesmo princípio de exploração dos recursos sem olhar a meios e sem que lhes toque o mais leve sentimento de humanidade. Aqui não há consciência ambiental, não há quem deseje um mundo melhor, quem se preocupe com a devastação que a humanidade provoca nas espécies animais e na própria natureza. Tudo se resume ao vil dinheiro. 

De direita e de esquerda, moderada e radical, estamos perante uma classe política que merece o nosso desprezo mais absoluto. Imagino que alguns deles tenham filhos e gostaria de os ver explicar porque defendem que se corte barbatanas a tubarões vivos para gáudio de uns quantos imbecis que se deleitam com tão frívolos petiscos. 

Os próprios chineses acabam de banir dos banquetes oficiais a sopa de barbatana de tubarão. Muitos hotéis e restaurantes na China e no Oriente também já o fazem. Pela mão destes deputados mostramos que estamos no fundo da escala da barbárie. É esta a imagem que queremos do nosso país? 

Que se engasguem na barbatana é o que sinceramente lhes desejo. A todos sem exceção.

Artigo de Leonel Moura no jornal "Negócios online".

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