sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Circo com animais em Portugal...


"Entre as pecularidades do circo Walter Dias - antigo Circo Atlas - está, obviamente, o uso abusivo descarado (e corajoso, tendo em conta o poder da Disney para esmagar quem a rouba) do lettering da Walt Disney, concebido a partir da assinatura do próprio Disney. Mas isso é o menos, até diverte. Hoje passei pelo estaminé circense de Walter, aqui ao lado, em Carcavelos. Digamos que já é algo surreal ver um dromedário nesta zona; obsceno e trágico é ver um dromedário, em Carcavelos, tentando desesperadamente mexer-se dentro de uma jaula pouco mais que minúscula. Dizem-me que também há leões nesta situação. E sabe-se lá mais o quê.

Passar junto ao circo Walter Dias é sentirmo-nos (ainda) mais terceiro mundo. É evidente que este é apenas um caso entre muitos - o que não falta em Portugal é circos tratando animais com uma desumanidade medieval. Mas este foi o exemplo chocante pelo qual passei hoje, e que me levou a sonhar que existia mesmo um movimento revolucionário como o que Brad Pitt liderava no 12 Macacos. Vontade não falta de abrir aquelas jaulas e libertar aquela bicharada. O problema é que uns eram capazes de nos comer e os outros eram atropelados ali ao pé, na Marginal. Porquê? Precisamente porque não é suposto estes animais estarem aqui. E isso é capaz de não ser uma verdade elementar para os miúdos, o público-alvo do circo, mas deveria ser para os adultos e, por exemplo, para as empresas supostamente sofisticadas e civilizadas que, ano após ano, pactuam com esta inacreditável forma de tortura, preguiçosamente depositando a organização das suas festas de Natal, Carnaval e afins nas mãos de artistas como Walter.


O circo de Walter Dias está montado para a época Carnavalesca. A mesma época em que uma sátira ao computador Magalhães, no Carnaval de Torres Vedras, foi aplicadamente proibida, num inacreditável acto de censura sem explicação. Aparentemente, estamos num país em que, no Carnaval, há que zelar pelo bom nome de um computador - enquanto um dromedário, leões e outras criaturas se debatem com falta de espaço, frio e um treino que não deve ser nada meigo para que cumpram o que deles se espera e Walter Dias receba o dinheiro de que necessita para, eventualmente, poder pagar o dinheiro que a Disney ainda lhe vai exigir por usar a assinatura de Deus no seu arrepiante Carnivale.


Associações de defesa dos animais há várias, neste país, e fazem o que podem - enquanto são olhadas por muito boa gente como bandos de malucos sem vida que não deixam o bom entretenimento da tortura animal ser apreciado em sossego pelo povo. Mas não era suposto uma ASAE ver o que se passa aqui e fazer alguma coisa? Talvez não - até porque, se calhar, é num circo como este que acontece a festa de Natal lá dos funcionários."

Extraído do Blog de Nuno Markl

Sobre o mesmo assunto, nota da ANVETEM, no seu respectivo Blog.

"Nota da ANVETEM:

A legislação sobre a utilização de animais em circos, em Portugal, é lacónica e omissa e está, neste momento, a ser revista pela Direcção Geral de Veterinária, de acordo com as mais recentes informações a que tivemos acesso.
Os MÉDICOS VETERINÁRIOS MUNICIPAIS, como Autoridades Sanitárias Veterinárias Concelhias não têm assim, muitas vezes, base legal para actuar em situações verificadas nalguns circos em território português, do modo efectivo, imediato e eficaz que mais desejariam.
Não obstante, são efectuadas vistorias sistemáticas pelos MÉDICOS VETERINÁRIOS MUNICIPAIS, em cada Concelho, a todos os circos que aí se instalem e que utilizem animais nos seus espectáculos, seguindo o questionário elaborado e remetido a todos os Colegas pela Direcção Geral de Veterinária.
Neste, como noutros temas, a participação da população é fundamental - se souber de casos de maus-tratos de animais ou atropelos ao seu bem-estar, em circos, contacte o MÉDICO VETERINÁRIO MUNICIPAL do seu Concelho."

Este mesmo Circo, encontra-se agora perto do Oeiras Park, junto à rotunda em direcção ao Tagus Park...Lá está com todos os seus animais, que são promovidos como a atracção principal do "espectáculo"...


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