segunda-feira, 18 de março de 2013

"MAIS TEMPO? MUITO MAIS TEMPO!"

Como não poderia deixar de ser, aí está a catástrofe!
Passos Coelho ainda há dois ou três dias dizia que “não existe necessidade de alterar a trajectória”. Ainda ontem dizia que estava tudo bem, que a sétima avaliação tinha corrido bem, como hoje confirmaria em detalhe o ministro das finanças. Mas afinal os detalhes de hoje de Vítor Gaspar não confirmam nada disso. Confirmam a catástrofe que já se sabia, mas que a sociedade Passos & Gaspar ia tentando manter debaixo do tapete!
Isso mesmo: o inimputável Gaspar deixou de o ser. A partir de hoje não é mais inimputável!
O ministro das finanças só não meteu dó porque quem faz o que ele tem feito não consegue sequer despertar esse sentimento. E porque uma legião de jornalistas domesticados (uma única excepção para o jornalista da SIC) – serão os jornalistas presentes nas conferências de imprensa do salão nobre do ministério das finanças escolhidos pelo ministro? – pactua com aquele discurso opaco e misterioso, abdicando de perguntas assertivas e resignando-se às respostas manhosas e às omissões do ministro.
O défice é de 6,6% e não os 4,9% com que ainda há semanas Passos se cobria de glória, garantindo o cumprimento da meta do défice. Nem outro qualquer do cardápio que Vítor Gaspar hoje quis apresentar, pretendendo transmitir a ideia que, como os chapéus, défices há muitos. Que é só escolher e que o Eurostat escolheu aquele. Mas que ele escolhe outro. Ele escolhe o défice primário estrutural!
Que é coisa que não existe – e como é estranho que nenhum jornalista lhe tenha dito isto -, é virtual. Existe nas suas folhas de Excel, como se fosse em laboratório bacteriologicamente puro!
As previsões macroeconómicas são de novo revistas, confirmando a implosão do orçamento em curso. A recessão, que no orçamento está fixada em 1%, e que há um mês, logo em Fevereiro, foi revista para o dobro é, agora, um mês depois, estimada em 2,3%. Mas ainda não desta que acerta: está mais próxima da realidade, mas é ainda insuficiente. O PIB cairá mais que isso!
Gaspar já prevê o desemprego a crescer aos 19%, anunciando que lá para 2016, daqui a três anos, estaremos de regresso à actual taxa de desemprego. Isto porque lá para o último trimestre do ano diremos adeus à recessão, e em 2014 já cresceremos 0,6%. Quer dizer, e tendo em conta a falta de jeito para previsões, o país que Gaspar e Coelho criaram em menos de dois anos vai ficar com um desemprego estrutural acima de 20%!
Os PIB nominais que estão por trás destes números é que não se conhecem: diz Gaspar que ainda precisam de umas afinações antes de poderem ser divulgados. Bonito. E sério!
Ah! E em 2040 teremos acertado o passo com os níveis de endividamento requeridos pelas regras da moeda única, os tais 60% do PIB. Ridículo: quem não acerta uma previsão a dois meses, lança-se numa a 30 anos. E motivante: em excesso de dívida, e portanto sem autonomia para coisa nenhuma, por mais 30 anos!
Gaspar e Coelho criaram tudo isto em menos de dois anos. Começaram a cavar este buraco quando, logo que tomou posse, o governo foi buscar aos portugueses metade do subsídio de natal e aumentou indiscriminadamente o IVA, sem que tal fosse estritamente necessário para o objectivo do défice, garantido pela habilidade da transferência dos fundos de pensões da banca. Não foi só a primeira grande machadada no consumo interno, foi também desbaratar a confiança, mesmo que residual, que ainda existia e substituí-la pelo pânico. Generalizado!
Depois foi sempre a aprofundar, a cavar cada vez mais fundo, com uma espiral de fundamentalismo a alimentar outra espiral: a da recessão. De pouco vale hoje falar de mais tempo, o mesmo mais tempo que ainda hoje Vítor Gaspar, completamente perdido, continuava a negar. Como poderá negar mais tempo, se é tanto mais tempo que já nem cabe no tempo do programa?
Como poderá negar mais tempo, quando tempo é a única variável que manipula?
Uma variável ilimitada. Numa folha de Excel pode sempre acrescentar-se mais um, dois, três… dez anos. Até que o tempo permita esquecer quantos são…
O país é que não é ilimitado. Os portugueses - por muito que custe ao Ulrich - é que não aguentam. Não aguentam que tudo por que passaram não tenha servido de nada, nem aguentam que em cima da pobreza a que chegaram seja ainda posta mais pobreza. Todos os anos, mais em cada ano. Porque foi apenas este mais tempo a que Gaspar e Coelho conseguiram chegar!
Como vi hoje algures escrito pelo Pedro Marques Lopes: “ Um ministro das finanças consciente, no fim desta conferência de imprensa, dirigia-se a S. Bento e pedia a demissão. Um primeiro-ministro normal metia-se no carro e dirigia-se a Belém para anunciar a sua própria demissão ao Presidente da República”.

Lido aqui.

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