quarta-feira, 28 de março de 2012

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Um homem, o seu cavalo e o seu cão iam por um caminho. Quando passavam perto de uma árvore enorme, caiu um raio e os três morreram fulminados.

Mas o homem não se deu conta de que já tinha abandonado este mundo, e prosseguiu o seu caminho com os seus dois animais (às vezes os mortos andam um certo tempo antes de tomarem consciência da sua nova condição…)

O caminho era muito comprido e, colina acima, o Sol estava muito intenso; eles estavam suados e sedentos. Numa curva do caminho viram um magnífico portal de mármore, que conduzia a uma praça pavimentada com portais de ouro.

O caminhante dirigiu-se ao homem que guardava a entrada e travou com ele, o seguinte diálogo: - Bons dias. - Bons dias – Respondeu o guardião. - Como se chama este lugar tão bonito? - Aqui é o céu.

- Que bom termos chegado ao Céu, porque estamos sedentos! - Você pode entrar e beber quanta água queira. E o guardião apontou a fonte. - Mas o meu cavalo e o meu cão também têm sede... - Sinto muito – disse o guardião – mas aqui não é permitida a entrada de animais.

O homem levantou-se com grande desgosto, visto que tinha muitíssima sede, mas não pensava em beber sozinho. Agradeceu ao guardião e seguiu adiante. Depois de caminhar um bom pedaço de tempo encosta acima, já exaustos os três, chegaram a um outro sítio, cuja entrada estava assinalada por uma porta velha que dava para um caminho de terra ladeado por árvores...

À sombra de uma das árvores estava deitado um homem, com a cabeça tapada por um chapéu. Dormia, provavelmente. - Bons dias – disse o caminhante. O homem respondeu com um aceno. - Temos muita sede, o meu cavalo, o meu cão e eu. - Há uma fonte no meio daquelas rochas – disse o homem apontando o lugar.

- Podeis beber toda a água que quiserdes. O homem, o cavalo e o cão foram até à fonte e mataram a sua sede. O caminhante voltou atrás, para agradecer ao homem. - Podeis voltar sempre que quiserdes – respondeu este.

- A propósito, como se chama este lugar? – perguntou o caminhante. - CÉU. - O Céu? Mas, o guardião do portão de mármore disse-me que ali é que era o Céu!

- Ali não é o Céu, é o inferno – contradisse o guardião. O caminhante ficou perplexo. - Deverias proibir que utilizem o vosso nome! Essa informação falsa deve provocar grandes confusões! – advertiu o caminhante.

- De modo nenhum! – respondeu o guardião – na realidade, fazem-nos um grande favor, porque ficam ali todos os que são capazes de abandonar os seus melhores amigos… 

Paulo Coelho

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